Classes com renda mais baixa são maioria na educação de jovens e adultos

22/05/2009 - 11h12

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Mais de 10 milhões de pessoas com idade superior a 15 anos frequentam ou já frequentaram cursos de educação para jovens e adultos (EJA), motivadas principalmente pelo desejo de retomar os estudos que precisaram ser interrompidos, muitas vezes, para a entrada no mercado de trabalho. Esse volume representa 7,7% do total da população nessa faixa etária. Entre as pessoas que fizeram parte desses cursos em 2007, o maior percentual correspondia às faixas de rendimentos mais baixos. Os frequentadores da educação de jovem e adultos representavam 3% da população com renda de até um quarto do salário mínimo e 2,6% daquelas que não tinham rendimento. Quando se observa o grupo formado também por quem já havia frequentado a EJA, no entanto, há uma pequena melhora nos níveis de rendimento. O maior percentual de participação passa a ser entre as pessoas que recebiam de um a dois salários mínimos (8,4%).Os dados fazem parte de um levantamento divulgado hoje (22), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007. O estudo traça uma radiografia da educação de jovens e adultos no país, o alcance do programa e as oportunidades de formação gerados à população que não pôde completar o ensino regular.Para o técnico do IBGE William Kratochwill, a análise do estudo comprova que a educação tem importante impacto na ascensão social e na melhoria da qualidade de vida da população. “Isso significa que a pessoa que já concluiu a EJA com certeza contribui para a elevação do rendimento de seu domicílio.”Ele chama a atenção, no entanto, para as dificuldades que boa parte da população encontra para concluir os estudos. De acordo com o levantamento, 42,7% das pessoas que não frequentavam, mas já haviam feito parte anteriormente da educação de jovens e adultos, não concluíram nenhum segmento do curso. O principal motivo apontado por eles é a incompatibilidade do período das aulas com o horário do trabalho ou de procurar emprego (27,9%). Essa é também a principal reclamação da empregada doméstica Maria Alice de Castro, que abandonou os estudos no início do ensino médio, aos 21 anos. Hoje, aos 44 anos ela se orgulha de ter voltado à sala de aula, mas diz que precisa se esforçar muito para não desanimar. No final do ano, Maria Alice espera concluir o terceiro ano.“Eu precisei parar de estudar porque, quando minhas filhas nasceram, eu não tive como trabalhar, estudar e cuidar delas. Hoje, elas já estão grandes, mas ainda assim é difícil conciliar tudo. Em geral, saio do trabalho tarde e cansada e acabo perdendo as primeiras aulas. Mas agora eu não desisto mais, porque ainda tenho o sonho de virar auxiliar de enfermagem.”De acordo com a pesquisa, a frequência de alunos da EJA é maior entre a população de cor preta (9,0%) e parda (8,1%). Entre a de cor branca, é de 7,2%, menor do que a média nacional (7,7%).As pessoas que frequentam a educação de jovens e adultos participam principalmente de cursos presenciais (71,7%), enquanto os cursos a distância respondem por apenas 2,8% do total de alunos. Além disso, o turno mais escolhido é o noturno (87,6%). A idade em que essa procura se dá com mais frequência é de 18 a 19 anos, no caso dos homens, e de 18 até os 39 anos, entre as mulheres.