Polícia do Rio matou seis vezes mais que a de São Paulo em 2008

21/05/2009 - 7h45

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A políciado Rio de Janeiro matou seis vezes mais do que a políciapaulista em 2008, segundo dados das secretarias de Segurança dos dois estados. No ano passado,1.137 pessoas morreram em supostos confrontos com policiaisfluminenses, uma média de 6,86 para cada 100 milhabitantes.Em São Paulo, no mesmo período,foram 431 mortes nos chamados “autos de resistência” (morteem confronto com policiais), ou seja, uma média de 1,04 porcada 100 mil habitantes.Segundo o coordenador de Análisee Planejamento da Secretaria de Segurança Pública deSão Paulo, Túlio Kahn, o nível de letalidade deuma força policial é reflexo dos discursos dasautoridades de cada estado. Segundo ele, em São Paulo, háalguns anos, governos consecutivos têm tentado diminuir asmortes causadas pela polícia.“Pelo menosem nível de discurso, muitas vezes a gente vê umainflamação no Rio de Janeiro e uma reaçãopor parte das polícias que, aqui em São Paulo,procura-se conter. Então, não obstante a diferençade armamento e do perfil dos criminosos de cada estado, há umadiferença na condução das políticas.Aqui, há uma política específica de direitoshumanos e de um controle muito estrito dos comandos, principalmenteda Polícia Militar, sobre a tropa para refrear esse tipo deação letal”, afirma Kahn.Já oespecialista em Segurança Pública e Direitos Humanos daUniversidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Ignácio Cano,considera que mesmo o índice de letalidade da políciapaulista é alto. O problema, para ele, é que a políciado Rio mata ainda mais do que a de São Paulo. “O Riorepresenta uma situação absolutamente extrema no Brasile no conjunto da América Latina e do mundo”, diz.Segundoo pesquisador, o discurso das autoridades de segurançapública, que no Rio de Janeiro defendem abertamente a políticade confronto, por si só, não explica os índicesde “autos de resistência” no estado. Para ele, tal situaçãojá faz parte da cultura da polícia fluminense.“Aquino Rio de Janeiro, já tivemos governantes que foramcompletamente a favor [das mortes causadas por policiais] e oimpacto foi nefasto no número de pessoas mortas pela polícia.E tivemos governantes que eram moderadamente contra e não sereduziu o número de mortos pela polícia. Então,o governante tem um papel, mas há um elemento da culturapolicial por um lado e da corrupção do aparelho doEstado, que certamente influenciam para além da vontade dogovernante”, explica Cano.A Secretaria de Segurançado Rio foi procurada pela Agência Brasil, paraexplicar a atuação da polícia fluminense, masinformou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não iriafazer qualquer comentário.