No Pará, CPI apura casos de exploração sexual de crianças e adolescentes

21/05/2009 - 18h03

Juliana Maya
Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
Brasília - No Pará, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi criada naAssembléia Legislativa do estado para apurar casos de exploração sexual de crianças. Em cinco meses de funcionamento, a CPI já recebeu mais de 2 mil denúncias e passou por 12 municípios. O objetivo é percorrer ainda duas cidades, Cametá e Redenção, além de voltar à Ilha doMarajó, de onde partiram as primeiras denúncias. Os deputados têm até o dia 11 de julho para concluir as investigações. Mais de 100 pessoas já foram ouvidas, entre vítimas, acusados e testemunhas.   Segundoo presidente da CPI, o deputado Adamor Aires (PR-PA), o prazo deduração da comissão chegou a ser estendido, por causa do grande númerode denúncias. Ele relata que, de acordo com as apurações, a maioria dasvítimas tem entre 10 e 12 anos, e 81% dos abusos e exploraçõessão cometidos por parentes ou por pessoas próximas à família.Odeputado afirma que a região do Marajó é a que apresenta asituação mais crítica, marcada pelo envolvimento inclusive deautoridades policiais. “As nossas autoridades,principalmente a Polícia Civil, quando não é omissa, nos brinda, entreaspas, com alguns integrantes que muitas vezes participam desses abusossexuais. Isso foi constatado pela Comissão Parlamentarde Inquérito. Por exemplo, o município de Breves, que é um municípiocom 100 mil habitantes, nós chegamos lá e verificamos que haviatramitando três processos, enquanto que no município vizinho, Portel, com apenas 40 mil habitantes, estava tramitando nacomarca em torno de 44 processos.”O deputado acrescenta que a CPI também tem orientado as comunidades por onde passa para que a população não se cale e denuncie.O bispo José Luís Ascona, defensor dos direitos humanos em Marajó, afirma que existem, na região, grupos criminosos organizados, que, alémde explorar sexualmente os menores de idade, são responsáveis poratividades de tráfico humano. Ele conta que muitas crianças jáforam levadas para a Espanha e para a Guiana Francesa.“Ultimamente estamos sabendo, desde Anajás, por R$ 500, mulheres etambém menores são levados por grupos organizados para o Suriname. É uma realidade tristíssima e uma realidade que envolvemuitas pessoas que controlam alguns grupos criminosos com muito podereconômico e também de certo tipo muito violentos.”O bispo dizainda que esses grupos fazem ameaças para que a população nãodenuncie. Por outro lado, segundo ele, muitas vezes as vítimas e asfamílias, além do medo, sentem vergonha dos vizinhos e da sociedade, epor isso acabam se calando. Ascona afirma que as autoridades não estãopreparadas para lidar com esse tipo de problema.“Muitasvezes, quando se denuncia casos desse tipo, nossas autoridades não têma sensibilidade para compreender a psicologia de uma menina que acabade sair de um ato que a marcará para sempre. E perguntas, questionáriose modo de tratar, muitas vezes não respeitoso com a vítima, fazrevitimizar outra vez a pobre criança, a fazendo reviver cenashorríveis e marcando mais profundamente com feridas a situação pessoaljá muito triste da menina.”Casos de violência contra crianças e adolescentes podem ser denunciados no Disque 100. A ligação é gratuita.