Índices de homicídio em São Paulo caíram três vezes mais que no Rio em seis anos

21/05/2009 - 7h38

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O ritmo de redução dos índices de homicídio no estado de São Paulo foitrês vezes maior do que no estado do Rio entre 2003 e 2008. Nesseperíodo, enquanto as autoridades fluminenses conseguiram reduzir osassassinatos em cerca de 21%, passando de 43,6 por 100 mil habitantespara 34,5 por 100 mil, os paulistas reduziram os homicídios em 62%, de28,3 por 100 mil para 10,7 por 100 mil.A diferença entre osdois estados não está apenas na redução dos homicídios, mas também nosíndices de outro crime violento contra pessoas: o latrocínio, ou seja,o roubo seguido de morte. Enquanto no Rio de Janeiro houve aumento de 20% nas taxas de latrocínio entre 2003 e 2008, em São Paulo houve redução de 53%.De acordo com o especialista em segurança pública e direitos humanos da Universidade do Estado do Rio (Uerj)Ignácio Cano, a redução dos índices de homicídio em São Paulo nos últimosanos é um fenômeno que se destaca não apenas quando é feita umacomparação com o estado vizinho, mas também quando se compara com osdemais estados brasileiros. “São Paulo conseguiu uma diminuição doshomicídios muito importante e muito consistente, comparado praticamentecom todos os outros estados”, disse.A capital do estado, porexemplo, com uma taxa de homicídios de 11,5 por 100 mil, hoje tem índice próximo ao de cidades norte-americanas como Miami e Los Angeles,com taxas de cerca de nove homicídios para cada 100 mil habitantes cadauma, e bem abaixo de cidades menos populosas, como Porto Alegre eCuritiba.Coordenador de Análise e Planejamento da Secretaria deSegurança Pública de São Paulo, Túlio Khan não tem uma resposta exatapara o fenômeno que vem ocorrendo no estado, mas tem algumas opiniões. Entre as hipóteses que ele levanta, estão mudanças na gestão dasegurança e na diminuição de armas de fogo.Segundo Túlio Khan, em1999, ano de pico dos homicídios em São Paulo, foi adotado um novosistema de mapeamento criminal no estado, o Infocrim. Baseado noCompstat, sistema de georreferenciamento usado pelas polícias dosEstados Unidos, a nova ferramenta teria permitido maior controle sobreos locais mais vulneráveis. Desde então, os índices dehomicídio vêm caindo ano após ano.“Não é só uma ferramenta deinformática, a gente está falando de uma nova forma de gestão, em quevocê pode comparar o desempenho das unidades. Você pega os dados e vêcomo [os índices] evoluíram e cobra: ‘olha, aqui sua área não está indobem, o que você está fazendo, o que está planejando para melhorar’”.“Acho que isso fez uma diferença importante, não só para homicídio,latrocínio, roubo de veículos e outros crimes”, disse.Durante esse período, outros sistemas, como o Disque-denúncia, que também existe no Rio de Janeiro, foram sendo implantados para ajudar no acompanhamento da dinâmica criminal em São Paulo. Kahntambém cita o aumento do controle sobre as armas de fogo como umamedida fundamental para a redução dos homicídios. Ele cita o Estatuto do Desarmamento, de 2003,  que restringiu o uso dearmas de fogo no país e teve um efeito nacional de redução do número demortes violentas em todo o país.“A queda aqui em São Paulocomeça antes de 2003, ou seja, de 1999 para 2000. O estatuto certamenteajudou a aprofundar essa queda, mas São Paulo já tinha um foco de tirararmas de circulação, que vem desde o governo Mario Covas, que começou orecadastramento estadual de armas em 1995. Então, a polícia foirestringindo muito, todo ano, a entrada de armas legais, fazendo novasexigências. Por outro lado, a PM tirando de circulação 10 mil armas portrimestre”, disse.Kahn acredita, no entanto, que o próprioperfil do crime em São Paulo também permite que a queda de homicídiosseja maior do que no Rio de Janeiro. Essa visão é compartilhada por Ignácio Cano. Segundo o pesquisador, no Rio de Janeiro,o tráfico de drogas é responsável por grande parte dos homicídios.Aqui, pelo menos três grandes facções criminosas disputam o controle depontos de venda de entorpecentes, o que resulta em muitos confrontos.Além disso, há ainda as milícias, grupos armados que também travamdisputas com traficantes e entre si. Em São Paulo, oespecialista explica que o tráfico de drogas é monopolizado por umaúnica facção criminosa, o que contribui para a redução dos confrontosarmados e, conseqüentemente, para um número menor de mortes. IgnácioCano acredita, portanto, que as políticas públicas foram importantes naredução dos homicídios em São Paulo, mas não são o único fator queexplica o fenômeno.Para ele, o Rio de Janeiro podetrilhar um caminho parecido com o de São Paulo, mas é necessárioprimeiro que esqueça a política de confronto com os criminosos, que,segundo Cano, produz mais violência e insegurança. “É preciso apostarnuma política de prevenção, de redução dos conflitos e de policiamentocomunitário, que São Paulo vem investindo há algum tempo e que o Rio sóagora começa a acordar”, explica.Apesar de Kahn comemorar aredução da criminalidade violenta em seu estado, ele reconhece quechegará um momento em que os homicídios pararão de cair. “A gente estáfalando de um estado com diversas grandes cidades, com todos osproblemas das grandes cidades do terceiro mundo, com crescimento rápidoe desorganizado, com muita desigualdade social. Então, é lógico quenossas taxas nunca vão ser as taxas dos países europeus, por exemplo.Tem ainda um espaço para cair, mas não vai ser menor do que 7 ou 8 por100 mil habitantes”, afirma Kahn.A Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro foiprocurada pela Agência Brasil para explicar as políticas que vemadotando no estado para reduzir os índices de homicídio, mas informou,por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria fazer qualquercomentário.