Exame determina dose correta de medicamento psquiátrico

17/05/2009 - 18h58

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Um exame que mostra comoé o comportamento de duas enzimas responsáveis pelo controle dometabolismo e a distribuição de medicamentos pelo organismo ajuda adeterminar a dose certa de remédios para cada paciente. O exame,que já existe no exterior, foi elaborado no Brasil pelo Laboratório deNeurociências do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas daUniversidade de São Paulo (USP) e promete revolucionar a área, além de ser o primeiro passo para o caminho da medicinapersonalizada.

O diretor do laboratório, Wagner Gattaz, explicou que o indivíduo pode tertrês reações ao medicamento prescrito pelo médico: que o remédio façabem e o paciente melhore; que o medicamento não faça efeito; e quemelhore, mas sofra efeitos colaterais. Segundo ele, essas diferençassão geneticamente determinadas pelas enzimas CYP2D6 e CYP2C19, mapeadas pelo exame. “O teste funciona comuma pequena amostra de sangue, mas é complexo, com vários passos, e é umprocedimento de alta tecnologia. Como esse teste é feito aqui no nossolaboratório, conseguimos fazer um teste eficaz, exato, mas a um custoinferior ao que se comercializa no exterior. Ele permiteclassificar as pessoas entre aquelas que metabolizam normalmente osmedicamentos, aquelas que metabolizam muito rápido e aquelas quemetabolizam muito devagar”.Gattaz afirmou que com oresultado do exame é possível orientar o médico a respeito da dosenecessária para cada paciente, a chamada medicina personalizada,dedicada às características de cada um. “Pessoas que metabolizam muitorápido vão precisar de uma dose maior e o contrário, aquelas que têm ometabolismo lento podem ter a dose reduzida para filtrar os efeitos colaterais, deixando apenas os efeitos terapêuticos desejáveis no tratamento”.O médico disse ainda queo teste já está sendo oferecido aos pacientes do instituto, mas por ser caro, ainda não é coberto pelo Sistema Único de Saúde (SUS).“Nossa esperança é de que em breve a utilidade desse teste sejareconhecida e que o SUS passe a cobrir seus custos. Isso permitirá quea grande massa da população possa usufruir desse progresso”.Para o diretor do Departamento de Psiquiatria da Santa Casa de São Paulo, Sérgio Tamai, autilização do exame no Brasil é muito positiva e importante, porque empessoas diferentes as dosagens podem variar em até quatro vezes. Eleressaltou que esse exame tem aplicação não só na área psiquiátrica, masem outras.“Importa o quanto amedicação fica circulando no sangue e atinge os órgãos. Isso porque amaior parte das drogas e medicações é eliminada pelo fígado em mais de 50% e a velocidade com que esses medicamentos são metabolizados édeterminada pelos genes. Além disso, podemos pensar nos efeitoscolaterais. É positivo ainda nos casos de medicações nas quais o efeitoterapêutico está muito próximo do efeito tóxico”, afirmou.O diretor adjunto daAssociação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores deEsquizofrenia (Abre), José Alberto Orsi, contou que toma trêsmedicamentos diferentes depois de sete anos tentando descobrir qualseria o melhor remédio e a dose mais adequada. “Não fiz nenhum testeaté hoje e saber que existe esse tipo de teste me deixa surpreso. Eufaria esse teste, sem dúvida alguma. Apesar de ser caro, ocusto que se tem de uma medicação não acertada supera muito qualquer valor de um exame”.