Queda de preços e aumento da massa salarial estimulam vendas nos supermercados

14/05/2009 - 16h56

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Os brasileiros estãogastando mais em supermercados e, na hora de encher o carrinho decompras, a escolha não se restringe aos alimentos da cestabásica – estão incluídos tambémprodutos que indicam maior preocupação com bem-estar econforto dentro de casa. É o que apontam pesquisas e análisessobre o comportamento dos consumidores e levantamentos que revelamcrescimento de 2,12% nas vendas em nível nacional no primeirotrimestre deste ano. Só no estadode São Paulo, o crescimento nas vendas dos supermercados nesseperíodo foi de 5,36%.O Grupo Pão de Açúcar , umadas maiores redes do varejo do setor, por exemplo, encerrou otrimestre com lucro líquido de R$ 94,9 milhões, comalta de 27,3% sobre igual período do ano passado. Segundo ovice-presidente executivo do grupo, Eneas Pestana, o Nordeste vem seconsolidando como segundo maior centro de consumo do país, oque justifica a intenção de ampliar os pontos deatendimento naquela região. De janeiro a março, emtodas as lojas da rede, as vendas cresceram 6%.Outro exemplo do aquecimento é o resultadoobtido pelo Carrefour. Nota divulgada pelo grupo empresarial informaque, em 2008, o Carrefour liderou o ranking das 20 maioresredes de supermercados que operam no país. O grupo teveaumento de 16,7% no faturamento bruto, que foi de R$ 22,4 bilhões.Na nota, o diretor-presidente da rede no Brasil, Jean-Marc Pueyo,informa que, neste ano, deverão ser inauguradas mais 70 lojasem todas as bandeiras exploradas pelo grupo. Os investimentosprevistos para 2009 e 2010 somam R$ 2 bilhões.O presidente da AssociaçãoBrasileira de Supermercados (Abras), Sussumo Honda, disse que o setortem-se beneficiado da crise financeira internacional. Ele ressaltouque, antes mesmo desse ciclo, os supermercados vinham apresentandobom desempenho, tendo crescido 9% nos meses de janeiro, fevereiro emarço do ano passado. Com a demanda mais retraída no mercadoglobal, a partir do segundo semestre do ano passado, isso levou a umrecuo dos preços das commodities (produtos agrícolase minerais comercializados no mercado externo), permitindo maioroferta interna de alimentos a preços mais baixos, acrescentouHonda.Segundo ele, outro fator que contribuiu para oaumento das vendas foi a redução na oferta de crédito.Honda observou que houve uma migração do consumo debens duráveis e mais caros para produtos de consumo maisimediato e baratos, caso dos itens comercializados nos supermercados.Além disso, lembrou Honda, em situaçõesde crise, “o primeiro corte de consumo das famílias édeixar de fazer as refeições em restaurantes oulanchonetes". Com isso, as famílias acabam comprando maisprodutos para fazer comida em casa. Ele reconheceu, no entanto, que omovimento reflete também o aumento da massa salarial, com maisoferta de emprego e renda.“O brasileiro está mais esperto ecauteloso, depois de vivenciar outras crises econômicas”,afirmou o vice-presidente de Comunicações da AssociaçãoPaulista de Supermercados (Apas), Martinho Paiva Moreira. Para ele,essa é uma das razões que levaram ao aumento das vendasnos supermercados. Com base em uma pesquisa da LatinPanel, Moreiratambém disse que as pessoas deixaram de comprar bens maiscaros e passaram a evitar gastos com lazer fora de casa. A LatinPanel, que acompanha o consumo na América latina, indica que, noprimeiro trimestre deste ano, as famílias brasileirasaumentaram em 9% o volume de compras de cestas de alimentos, bebidase produtos de higiene pessoal e de limpeza. Moreira, no entanto,salientou que os itens mais caros têm sido substituídospor mercadorias mais em conta.O economista Marcel Solimeo, da AssociaçãoComercial de São Paulo, ressaltou que é natural, emmomentos “de economia em queda, com dificuldade de acesso aocrédito, os consumidores canalizarem suas compras para bens demenor valor”. Em uma análise de comportamento, Solimeodestacou que as classes de renda mais baixa têm sido as maisfavorecidas na melhoria salarial. De acordo com o economista, nessafaixa há uma tendência em consumir mais alimentos.Dados do Ministério do Trabalho e Empregomostram que o valor do salário mínimo subiu de R$ 300,em 2005, para R$ 465 neste ano.