Desafio é combater o braço econômico das milícias, alerta deputado fluminense

14/05/2009 - 21h47

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A prisão do foragido da Justiça, Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman, é apenas uma parte do quebra-cabeça do crime organizado no Rio de Janeiro. O desafio agora é combater o braço econômico das milícias, grupos paramilitares que vendem segurança e exploram serviços clandestinos em comunidades pobres do estado. A avaliação é do deputado estadual Marcelo Freixo (P-SOL), que participou hoje (14) de um seminário sobre crime organizado, na Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj). O parlamentar comemorou a captura de Batman, que havia escapado em outubro do ano passado pela porta da frente do Presídio de Segurança Máxima de Bangu 8, na zona oeste da cidade. “A prisão dele é sem dúvida importante, pois é o principal operador e braço armado de uma das milícias mais fortes. Mas só isso não basta. É necessário enfrentar os braços econômicos, cessar as fontes de lucro das milícias. Que o poder público recupere sua condição de oferecer transporte de qualidade e fornecer o gás, não permitindo que esses comércios sejam instrumentos de lucratividade do crime”, afirmou. Para que isso seja possível, Freixo considera indispensável a colaboração do governo federal, pois a forma de atuação das milícias está se espalhando velozmente pelos municípios fluminenses e também sendo replicada pelos estados.“Cabe à Receita Federal e à Polícia Federal a investigação patrimonial. O rendimento desses milicianos é incompatível com os seus bens e seria fácil pegá-los dessa forma. Isso foi, no mundo inteiro, o principal veículo utilizado pela Justiça para aprisionar os criminosos”, afirmou Freixo, que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias, no ano passado, na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que levou à prisão os principais líderes milicianos do estado.Para o sociólogo e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Ignacio Cano, a prisão de Batman é revestida de importância, embora esteja longe de ser um golpe fatal no poder dos criminosos. “É importante porque ele representava a impunidade em um nível muito elevado no Rio de Janeiro. Mas em termos do funcionamento de uma milícia, é como prender um chefe do tráfico: ele vai ser substituído. Essas redes não dependem de figuras individuais. O poder público tem que visar o desmantelamento desses grupos e não apenas a captura dos responsáveis individuais”, disse.O sociólogo defendeu uma reação forte e imediata de todos os entes do Estado contra o crime organizado. Caso contrário, segundo Cano, haverá uma situação quase incontrolável de criminalidade. “É muito importante que haja uma reação contra as milícias, contra o tráfico, contra qualquer grupo armado irregular que domine o território e a população. Nós precisamos de uma estratégia comum contra essa situação, que afeta um quarto da população de nossas grandes cidades”, afirmou. Para garantir que Batman não fuja outra vez, ele vai ficar preso na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), onde são mantidas algumas lideranças do crime organizado.