Bancos centrais devem adotar metas de inflação de ativos, defende diretor do BC

14/05/2009 - 21h09

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O diretor de PolíticaEconômica do Banco Central, Mário Mesquita, defendeuhoje (14) que os bancos centrais adotem, no futuro, metas de inflaçãode ativos, como os do mercado imobiliário e de ações,de maneira semelhante ao que ocorre atualmente em relaçãoàs variações de preços de bens eserviços.

Segundo ele, que participou hoje(14), no Rio de Janeiro, do 11º Seminário Anual deMetas para a Inflação, a “políticamonetária deve ter uma atitude proativa frente a movimentos depreços de ativos principalmente para minimizar o risco dosurgimento de desequilíbrios financeiros que possam vir agerar problemas sistêmicos, com impactos macroeconômicosimportantes”, como a atual crise financeira internacional.

Mesquita afirmou, no entanto, queainda não há consenso entre os especialistas da áreasobre ampliação das metas dos bancos centrais. Mas eleacha “provável” que algumas dessas instituiçõespassem a acompanhar com mais atenção movimentosexcessivamente rápidos de preços dos ativos, sem perderde vista o objetivo de garantir a estabilidade do poder de compra damoeda em termos de bens e serviços.

Ilan Goldfajn, ex-diretor do BancoCentral, também defendeu que os bancos centrais monitorem, masde forma “contracíclica”, os ativos para evitar bolhassemelhantes às do mercado de ações.“Você não podeignorar quando os ativos começam a subir muito rápidoporque isso pode ter implicações. Nesse sentido, euacho que os ativos deveriam entrar [napolítica de metas do Banco Central],mas é difícil estabelecer metas. Mas quando começaa haver bolhas, você pode agir e pode levar isso emconsideração nas decisões de políticamonetária”, disse.

Goldfajn também comentou asmudanças na tributação dos rendimentos dacaderneta de poupança, anunciados ontem (13) pela equipeeconômica do governo. Segundo ele, a medida foi “suficientepara ganhar tempo”, mas vai demandar esforços futuros paraque sejam feitas mudanças mais profundas. Como justificativa para passara tributar de forma escalonada com Imposto de Renda, a partir de2010, as aplicações na caderneta de poupançaacima de R$ 50 mil, o governo afirma que era preciso evitaruma migração de recursos dos fundos de investimento,que ficaram menos atrativos com as quedas na taxa básica dejuros, para a poupança. De acordo com o governo, isso poderia causarproblemas na rolagem da dívida pública, cujos títulosservem de base para as aplicações dos fundos. Apoupança tem rentabilidade garantida de 6% ao ano mais taxareferencial (TR).“Acho que isso resolve nocurto prazo, é válido num primeiro momento, ganhou-setempo, mas num segundo [momento]vai ser preciso pensar em uma reformulação maisestrutural. Isso envolve não só a poupança, maso rendimento de outras estruturas, como do fundo de pensão”,afirmou Goldfajn.Como impacto positivo que amudança pode gerar, o professor José MárcioCamargo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio deJaneiro, cita a redução das taxas de administraçãodos fundos. Para ele, a medida foi “adequada” para o cenárioatual, e defende que o governo adote no futuro uma políticadefinitiva sobre o assunto.“Há fundos de investimento com taxas deadministração relativamente altas. Como a poupançavai ficar competitiva com eles, provavelmente haverá migração[de investidores dos fundos para a caderneta de poupança].Essa concorrência vai acabar forçando uma parte dessesfundos a reduzir suas taxas de administração”, disse.