IBGE constata que permanecem desigualdades de raça no mercado de trabalho

13/05/2009 - 18h54

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Pesquisa divulgada hoje (13) pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, apesar dos avanços registrados nos últimosanos em termos de emprego, permanecem as desigualdades entre osgrupamentos de pretos e pardos, e brancos. A data da divulgação foi escolhida intencionalmente diante da comemoração da assinatura da Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil.O instituto fez umcomparativo dos dados da Pesquisa Mensal de Emprego de marçode 2009 com a pesquisa de março de 2003, com relação àsquestões de ocupação, escolaridade erendimento. A economista Adriana Beringuy, da Gerênciada Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, disse à AgênciaBrasil que os dois grupos de cor ou raça - sendo pretos e pardos um dos grupos e brancos o outro grupo - têm obtidoavanços em termos de crescimento da renda e reduçãodo desemprego, mas de maneira desigual. “Só que o patamar que os brancos atingem émaior do que aquele conseguido pelos pretos ou pardos”.Segundo ela, há uma tendência de melhoria para todos no mercado, mas aintensidade dessa melhoria ainda não é suficiente parareduzir as desigualdades. Em relação ao rendimento, ocorreuexpansão para os dois grupos, entre 2003 e 2009. “Sóque ainda assim, o rendimento dos trabalhadores pretos e pardosequivale à metade do rendimento percebido pelos brancos. E,com o rendimento mais baixo, você tem mais impedimentos paraque essa população possa transpor barreiras econômicase sociais que acabam levando a esse ciclo vicioso. Ele tem menosrenda, menos escolaridade”, avaliou a economista. Em decorrência disso, pretos e pardos têm menos acesso a postos de trabalho commelhor remuneração. E, embora haja uma melhoria da rendada sociedade como um todo, os pretos e pardos ficam em desvantagem emrelação aos brancos, afirmou a economista. A renda média real dos pretos e pardoscresceu de R$ 690,3 para R$ 847,7 no período, enquanto a dos brancos subiu de R$1.443,3 para R$ 1.663,9. Adriana Beringuy observou que, no entanto, na comparação de março de 2009 com marçode 2003, o rendimento médio de pretos e pardos aumentou 22%,enquanto a renda média dos brancos evoluiu 15%. “Ou seja, emtermos de ganho de rendimento, pretos e pardos tiveram um percentualmaior do que o alcançado pelos brancos.” O ganho, apesar disso, não contribuiu para diminuir a diferença e o valor absoluto do salário de pretos e pardos, no período, émetade do valor do salário de brancos. Há análises também sobre o percentual daqueles que estão no mercado de trabalho. Enquanto a população em idade ativa(PIA) de pretos e pardos aumentou de 42% para 45,3% de marçode 2003 para março de 2009, a PIA de brancos diminuiu de 56,9%para 53,9%. Já a população desocupada de pretose pardos atingiu 50,5% este ano, contra uma reduçãodos desocupados brancos, de 49,8% para 49%. A taxa dedesocupação de pretos e pardos caiu no períodode 14,4% para 10,1%. No grupo dos brancos, também houve redução, de10,6% para 8,2%. Entre os grupamentos de atividade, a pesquisamostra que o percentual de trabalhadores pretos e pardos nos serviçosdomésticos passou de 59,1%, em 2003, para 61,6%, em marçode 2009. Do mesmo modo, houve expansão dos trabalhadorespretos e pardos na construção civil: de 52,6% para59,6%. Entre os brancos, o contingente de trabalhadores domésticose na construção caiu, respectivamente, de 40,6% para38,1% e de 46,9% para 39,9%, no período analisado. O IBGE já vinha notando há algumtempo a progressão de pretos e pardos. Em pesquisa recentesobre o trabalhador por conta própria, o instituto verificouque, na maioria das vezes, esse trabalhador está no serviçoambulante ou na construção civil. “A gente constatouagora, no estudo de cor ou raça, um predomínio dapopulação de trabalhadores pretos ou pardos nosserviços domésticos, como também na construção”, disse Adriana. Segundo a economista do IBGE, o fato do grau deescolaridade exigido não ser alto para o desempenho dessas atividades faz com queessa população, que, em sua maioria, tem menos tempo de escola, seja absorvida por esses setores. “E quando a gente associa isso à cor ouraça, percebe que aqueles menos escolarizados estão napopulação preta ou parda”. De acordo com o estudo, a escolaridade médiade brancos subiu de 8,3 anos para 9,1 anos, enquanto a dos pretos epardos evoluiu de 6,7 anos para 7,6 anos, entre 2003 e 2009.