Ações integradas são saída para manter adultos em cursos de alfabetização

13/05/2009 - 10h29

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Como convencer um adulto que passou a vida sem saber ler eescrever a frequentar uma turma de alfabetização ànoite e ter que enfrentar suas dificuldades e limitações?Para os educadores e especialistas no tema, a resposta está naarticulação das políticas de educaçãocom outros setores sociais. Não basta oferecer a sala de aula,mas garantir outras formas de motivação.“Eusempre pergunto por aí quantas pessoas se inscrevem para fazerum curso de línguas depois do trabalho. A maioria desiste.Então, se coloque no lugar do analfabeto: ele trabalhou o diainteiro, geralmente em uma função pesada, é umpúblico que exige atenção especial”, defende osecretário de Educação Continuada, Alfabetizaçãoe Diversidade do Ministério da Educação (MEC),André Lázaro.“Oadulto vai ter dificuldade em ler e escrever, você precisafazer com que ele acredite que vale à pena ir para as aulas ànoite”, reforça.Segundo o secretário, o MECestá tentando convencer prefeituras e governos estaduais ainvestir em ações integradas nas turmas dealfabetização. “Nós sustentamos a tese de quea educação organiza. No caso das turmas do BrasilAlfabetizado, você pode organizar uma série de políticaspúblicas, seja com palestras sobre saúde da mulher ouprogramas de geração de renda e cooperativismo”,exemplifica. Aprofessora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Clara DiPierro diz que, como o problema atinge, em grande parte, as parcelasmais pobres da população, é preciso combinar aspolíticas sociais para conseguir reduzir ou eliminar oanalfabetismo no país.“Quandovocê atinge patamares pequenos de analfabetismo é muitomais difícil reduzir [o problema] justamente porquevocê chega àquelas populações em que oanalfabetismo está associado a formas extremas de exclusãosocial”, afirma“Oque acontece hoje é a ausência de políticasintersetoriais para atingir esse grupos, porque eles precisam de umconjunto de políticas articuladas de educação,saúde, assistência, trabalho”, complementa Maria Clara,especialista em educação de jovens e adultos.Paraa professora, é necessário dar sentido a essa educação.“Não basta um esforço escolar simplesmente. Se eleestá na zona rural, precisa de terra, financiamento emelhorias no transporte. No escopo do desenvolvimento local éque a alfabetização ganha sentido. Então aquestão é distribuir renda, melhorar o horizonte devida dessas pessoas”, defende a especialista, ao ressaltar aimportância de se criar atrativos para que o analfabeto nãodesista de estudar.Elatambém alerta que muitas vezes o modelo tradicional deeducação não serve para o adulto. “Épreciso organizar o processo em ciclos mais curtos, de formaflexível, para que ele possa evoluir no seu ritmo. Toda vezque você encaixa a educação de adultos em ummodelo rígido, tradicionalmente escolar, não cabe,porque não atende aos arranjos de vida das pessoas”, observa.