MEC não consegue atrair professores formados para trabalhar em turmas de alfabetização

12/05/2009 - 10h45

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A professora Ana Cristina Araújo fala com orgulhosobre seus alunos da turma de alfabetização. Sãodonas de casa e trabalhadores que se reúnem todas as noitespara o desafio de voltar à sala de aula. As dificuldades paramotivar turmas de educação de jovens e adultos sãomuitas, mas ela não pensa em abandonar o trabalho que realizahá cinco anos. “A gente não está aqui pelodinheiro, isso é o de menos. A conquista dos alunos é ogratificante”, conta.Sesobra boa vontade à professora, falta formação.Ana Cláudia tem o ensino médio completo e jáparticipou de alguns cursos de capacitação, mas esperaum dia chegar ao ensino superior. Como ela, boa parte dos professoresque trabalham em turmas de alfabetização não temformação específica.

Paraa especialista da Universidade de São Paulo (USP) Maria ClaraDi Pierro, o fato de muitos alfabetizadores ainda terem uma formaçãobásica compromete o processo de aprendizagem.“Ensinara ler e escrever não é uma tarefa que qualquer pessoapode executar. Motivação, boa vontade e inserçãona comunidade são atributos necessários, mas nãosão suficientes”, avalia. Em2007, ao anunciar mudanças no programa Brasil Alfabetizado, oMinistério da Educação (MEC) estabeleceu a metade que pelo menos 75% dos alfabetizadores deveriam ser professores darede municipal ou estadual.Mas, segundo o secretáriode Educação Continuada, Alfabetização eDiversidade do MEC, André Lázaro, isso não vemsendo cumprido. Uma das justificativas apontadas por ele é obaixo valor da bolsa paga aos professores, de R$ 250 a R$ 275 mensaispor turma.“Nãoestamos conseguindo manter esse percentual. O valor da bolsa ainda émuito baixo, vamos ver se para frente é o caso de aumentar.Mas nós temos um projeto de capacitação dealfabetizadores na formação inicial e continuada. Essaé uma das nossas preocupações com o programahoje”, afirma.MariaClara Di Pierro ressalta que a educação de jovens e adultos nãoocupa o lugar que deveria nem mesmo nas faculdades de pedagogia dasmelhores instituições de ensino superior do país.“Mesmo nas universidades de ponta, a educação deadultos não está no currículo. E, quando existe,é uma disciplina optativa, como é aqui na USP, aindamarginal na formação. Você não tem umsistema de formação permanente e continuada nessecampo”, alerta.Parao professor da Faculdade de Educação da UniversidadeFederal Fluminense (UFF) Osmar Fávero, as dificuldades comunsem uma turma de alfabetização podem ser potencializadasse não houver um profissional com formação adequadadentro da sala de aula.

Amaioria dos professores do Brasil Alfabetizado é voluntária.Você tem muito problema de material didático inadequadona mão de um professor que é mal preparado, que ganhapouco, que não tem um lugar adequado para trabalhar com umpúblico cansado que trabalha o dia todo, não se podeesperar uma ação eficaz”, analisa.