Economista defende desenvolvimentismo para evitar estagnação do Brasil depois da crise

05/05/2009 - 19h28

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Brasil deve recuperar a chamada“economia do desenvolvimento”, para evitar um retorno àestagnação, e partir para um desenvolvimentismokeynesiano, como propôs o economista inglês John MaynardKeynes, que prevê a intervenção sistemáticado Estado, “justificado teoricamente”. João Paulo de AlmeidaMagalhães, presidente do Centro de Estudos para oDesenvolvimento (CED) do Conselho Regional de Economia do Rio deJaneiro (Corecon/RJ), em entrevista à AgênciaBrasil, sugeriu que o Estado esteja mais presente na economia. Emseu novo livro O Que Fazer Depois da Crise: A Contribuiçãodo Desenvolvimentismo Keynesiano, o presidente do CED procuraindicar as ações que o Brasil deve adotar para sair dacrise internacional melhor do que entrou.Ele afirmou que o que está sefazendo atualmente em matéria de política econômicapara o Brasil “é uma política indicada pela economianeoclássica, que aplica ao país tudo o que vale hojepara as nações desenvolvidas”.Magalhães defendeu a vinda docapital estrangeiro, mas negou que ele tenha tanta importânciacomo a economia neoclássica afirma. “Ajuda, porque traztecnologia nova. Mas, não tem a importância que se alegaporque, se você não possui uma política corretade investimento - como é o caso hoje, o capital estrangeirochega aqui e expulsa o nacional. Ou seja, você teve entradasvolumosas de capital estrangeiro no país, nos últimosdez anos, sem que a taxa de investimento sobre o Produto InternoBruto (PIB), se alterasse. Então, o capital estrangeiro nãoajudou nada ao desenvolvimento”, disse.O presidente do CED descartou tambéma tese de que o capital estrangeiro complementa a poupançanacional. Segundo Magalhães, em um mercado dinâmico, apoupança sobe de forma espontânea. “Na Ásia, ocrescimento econômico se acelerou, antes de as poupançasaumentarem. Então, é a existência de mercado quefaz a elevação de poupança. O capitalestrangeiro não é elemento vital”, afirmou.Magalhães tambémdefende que a prioridade deve ser dada ao desenvolvimento e, não,ao combate à inflação. Disse que a transferênciado modelo econômico vigente nos países desenvolvidos aospaíses subdesenvolvidos pode acarretar problemas, porquedesenvolvimento econômico significa um crescimento acelerado. “E no crescimento acelerado,pressões cambiais, monetárias e fiscais sãoinevitáveis. Se você, logo que a pressão aparece,toma medidas para controlá-la, como elas sãonecessárias para o desenvolvimento, isso significa que vocêestá parando o desenvolvimento. É o que estáacontecendo agora”, afirmou. Na análise de JoãoPaulo de Almeida Magalhães, é perfeitamente possívelfazer um desenvolvimento acelerado com uma inflaçãomáxima de 5% ao ano. “Veja-se o caso da China e da Coréiado Sul”. Advertiu, ainda, que caso seja necessário, em umaemergência, ter uma aceleração temporáriada inflação, “você tem que aceitar”.O economista criticou também oprotecionismo que o presidente da República, Luiz InácioLula da Silva, está condenando como forma de combater a crise.“É um erro fundamental”. Afirmou que numa políticade desenvolvimento de longo prazo, o protecionismo temporárioé bem-vindo.Magalhães esclareceu quequando um país apresenta vantagens comparativas provisórias,não se pode abrir a economia. Citou o exemplo da China, ondeos salários são baixos. Enfatizou que o Brasil sópode aceitar uma abertura na base das vantagens comparativas se elasforem permanentes. “Não é o caso dos saláriosda China, que podem crescer nos próximos dez anos, seequiparando aos nossos, o que elevará o preço dosprodutos chineses”. O protecionismo que o presidente do CED defendeserviria para compensar a vantagem comparativa temporária daChina, que são os baixos salários.Magalhães se mostrou um poucocético em relação à retomada da economiabrasileira ainda em 2009. “Não se pode, nesse momento, tercerteza de nada. Tem que esperar uns três anos, se houver umarecuperação no ano que vem, para ver se essarecuperação continua e é uma tendência”,afirmou.