Não-índios ainda trabalham para retirar últimos pertences da Raposa Serra do Sol

30/04/2009 - 7h44

Marco Antonio Soalheiro
Enviado Especial
Vila Surumu (Terra Indígena Raposa Serra do Sol) - Famíliasde agricultores brancos que devem, por ordem judicial, deixar a RaposaSerra do Sol até o fim do dia de hoje (30), ainda trabalham paraconseguir retirar todos os seus pertences em tempo hábil. Magoados como governo federal e com a Justiça, muitos deixarão a área com o futuroainda incerto. É o caso do do agricultor Aílton Cabral, 66 anos, quelevará aproximadamente 600 animais (bois, porcos, galinhas)provisoriamente para as terras de um primo, enquanto discute na Justiça o valor da indenização a ser paga pela Fundação Nacional do Índio(Funai) e aguarda a indicação pelas autoridades de uma área compatívelpara assentamento. “Eu estou sendo escurraçado. Desde o início,o governo adotou uma forma truculenta, vil e covarde de tratar aquestão”, reclamou cabral. “Essa era uma área muito boa para a criação.Conseguir outra igual é muito difícil. Prometeram uma terra, mas atéhoje não tenho para onde ir”, acrescentou. Os brancos casadoscom índias podem permanecer na área desde que concordem com a vida emcoletividade e abram suas área para uso comum. Mas nem todos que estãonessa situação quiseram ficar. O policial militar aposentado ClóvisPereira , 52 anos, casado com indígena, aceitou contrariado aindenização de R$ 25 mil (ele acredita que teria de receber R$ 60 mil) eestá de mudança para uma casa na periferia de Boa Vista. Deixará  acasa de quatro cômodos, onde morou por décadas, porque teme serperseguido pelos índios que não queriam a permanência dos brancos nareserva. “O sentimento é de muita tristeza em deixar o lugaronde criei meus filhos. E estou saindo sem dignidade. Ofereceram umtransporte que não era adequado e poderia estragar nossas coisas. Então,eu mesmo vou pagar a mudança”, afirmou Pereira, enquanto orientava ocarregamento de um caminhão. Dos seis grandes produtores de arroz que atuavam na reserva, três disseram já ter concluídoa desocupação das fazendas. Os outros ainda têm colheitas pendentes einsistem que o governo federal não tem condições de se responsabilizarpelo aproveitamento dos grãos. Querem pelo menos mais 30 dias parasair pacificamente da área. A dúvida é se ficarão nas fazendas depois do dia dehoje (30), mesmo correndo o risco de serem retirados à força pela PolíciaFederal.   Os senadores Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e AugustoBotelho (PT-RR) visitaram comunidades como representantes de umcomissão externa do Senado. Eles se comprometeram a cobrar dogoverno federal melhor assistência na reserva e condições dignas deindenização e reassentamento para quem sair. “Não estãoretirando da região animais, mas seres humanos, então o governo federalprecisa cuidar do pós -saída. Por enquanto, [o governo federal] nãoestá cumprindo o prometido. Não dá para misturar pessoas que saíremdaqui com sem-terras em assentamento de reforma agrária. Eles devem ter um condição equivalente àquela em que viviam aqui”, ressaltou Cavalcanti. “Esperoque não aconteça aqui o que aconteceu em São Marcos [reserva indígenavizinha à Raposa Serra do Sol]. Os irmãos índios de lá sobrevivemporque fazem contrabando de gasolina da Venezuela. Então, nós temos quedar alternativas de sobrevivência para os que ficam aqui”, completouBotelho.