Fazenda de Quartiero será desocupada em condição de terra arrasada

30/04/2009 - 7h51

Marco Antonio Soalheiro
Enviado Especial
Fazenda Depósito (Terra Indígena Raposa Serra do Sol) - Daporteira de entrada, a Fazenda Depósito, área de 4,5 mil hectares queera ocupada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima,  pelo rizicultorPaulo César Quartiero, parece ter sidoalvo de uma explosão. Destroços da sede e de galpões estão espalhadospela terra. Em meio a concreto e tijolos partidos, é possívelidentificar pedaços de privadas, telhas e azulejos quebrados.   Algunsfuncionários vão concluir hoje (30) a retirada das últimas máquinas. Sóficarão estacas e arames. A ordem do produtor foi não deixarpraticamente nada de que os índios possam aproveitar. Ordem cumprida eapoiada pelos empregados. Depois de retirados móveis e utensílios quepoderiam ser aproveitados em outra construção, tratores derrubaram tudo. “Tinhabanheiro, quarto com ar condicionado e poços artesianos. Tiramos tudoporque a cultura deles [índios] é ficar debaixo das malocas de palha ebuscar água nos rios. Se queriam viver isolados, não precisam dessascoisas” , afirmou Anderson Borges, de 30 anos, um dos funcionários dafazenda. “Infelizmente não deu tempo de destruir as estradas”,acrescentou. A concordância dos empregados com a destruição seexplica pela revolta que sentem diante da perspectiva de perder oemprego e até a moradia, já que alguns ficavam direto na fazenda. Opatrão ainda estuda outras áreas para voltar a cultivar arroz e deverá,ao menos temporariamente, abrir mão de parte da mão-de-obra. Osempregados disseram ganhar dois salários mínimos, mais gratificações. “Vamoscaçar um lugar para ficar em Boa Vista. Ou vamos para debaixo da ponteou vamos tomar a sede do CIR (Conselho Indígena de Roraima). Eles vêmpara cá ficar isolados e a gente vai para lá”, ironizou Borges. Apreocupação com os efeitos do desemprego, entretanto, é real. NiloCarlos, outro funcionário, de 38 anos e três filhos, criticou a posturado governo federal, de apenas garantir o seguro-desemprego para quemdeixar de trabalhar: “Isso é uma vergonha para o país. O governodesempregar as pessoas para depois querer dar esmola”. “Tinha pai que pagava faculdade  de filho com o dinheiro daqui. Como fica isso?”, questionou Borges. Independentementedo mérito das motivações, a ação dos últimos dias na Fazenda Depósitopode se configurar como crime, uma vez que a indenização pelasbenfeitorias do local já teria sido depositada em juízo pela FundaçãoNacional do Índio. O Ministério Público Federal vai apurar e indicar os culpados.Na outra área ocupada por Quartiero nareserva, a Fazenda Providência, de 5 mil hectares,  a situação édiferente. O produtor alega ainda ter lápelo menos 400 hectares plantados e insiste em permanecer por mais 30dias para finalizar a colheita e  sair pacificamente. O prazo dado pelaJustiça para a desocupação, entretanto, termina hoje, e, se não houveruma prorrogação,  a partir de amanhã Quartiero e funcionários poderãoser retirados à força da fazenda pela Polícia Federal.