Líder indígena diz que Exército deverá "pedir licença" para entrar na Raposa Serra do Sol

29/04/2009 - 7h15

Marco Antonio Soalheiro
Enviado Especial
Boa Vista - Asterras indígenas são de propriedade da União, com usufruto dos índios.Não há qualquer impedimento legal para que as Forças Armadas atuem emseus limites. Esse aspecto foi enfatizado com insistência pelaAdvocacia-Geral da União (AGU) e por ministros do Supremo Tribunal Federal(STF) no julgamento que selou a demarcação em faixa contínua da TerraIndígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. A principal liderança indígena do estado, no entanto, acredita que o Exército precisa comunicarpreviamente as comunidades antes de fazer qualquer operação na área, de1,7 milhãode  hectares. “Nós estamos na nossa casa. Então, por quenão podem pedir licença para nós? Se eu for falar com um coronel numquartel, desde a entrada eu serei investigado. Dizer que entra a horaque quiser é sacanagem e falta de respeito. Tem que avisar e informaras comunidades”, comparou o coordenador-geral do Conselho Indígena deRoraima (CIR), Dionito José de Souza.  “Se o Exército, a polícia ouqualquer organização for trabalhar nas áreas indígenas, tem quecomunicar às pessoas para elas ficarem sabendo o que está acontecendo.Não é nada demais comunicar aos tuxauas [caciques] o que vai fazer naRaposa Serra do Sol ”, acrescentou.  O argumento de que terrasindígenas em áreas de fronteira comprometem a segurança nacional foiusado recorrentemente pelos setores contrários à demarcação contínua daRaposa Serra do Sol.  Outro ponto de discórdia dos índios emrelação à decisão do STF foi a poribição da cobrança de pedágiopara o acesso de brancos à terra indígena. Os índios queriam fazerexploração turística  no Lago Caracaranã,   a166 quilômetros de Boa Vista, que conta com uma praia de águadoce e cristalina e é considerada um dos pontos mais belos do estado. A idéia seria permitir a visitação dos brancos aolocal mediante cobrança de taxas, que seriam revertidas para acomunidade.  “Se não for possível explorar assim, vamos fechare deixar o lago só para uso dos índios mesmo. Não vamos abrir para osbrancos sem receber nada”, disse Dionito.Em relação àsorganizações não-governamentais nacionais e estrangeiras que trabalhamcom as comunidades, o líder indígena  garantiu que passarão por umcontrole rigoroso. “Para comparecer lá [na Raposa Serra do Sol], a ONGvai ter queser reconhecida na Funai [Fundação Nacional do Índio], na PolíciaFederal, e as comunidades conhecerem o seu trabalho. Vai haver umaautorização com respeito aos povos indígenas. Se o objetivo da ONG fordividir os povos, não vai entrar lá”. Na Raposa Serra do Solvivem aproximadamente 18 mil índios das etnias Macuxi, Wapichana,Patamona, Ingaricó e Taurepang. As duas principais organizaçõesindígenas da região são o CIR e a Sociedade dos Índios Unidos em Defesade Roraima (Sodiu-RR), que frequentemente têm opiniões conflitantes. AAgência Brasil procurou pelos dirigentes da Sodiu-RR, mas não conseguiulocalizá-los. Na sede da associação, em Boa Vista, a informação foi de queestavam dentro da reserva, envolvidos em uma eleição da entidade.