Bicampeonato no Enem não surpreende responsáveis pela escola

29/04/2009 - 18h14

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O bicampeonato doColégio de São Bento no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nãosurpreendeu os responsáveis pela escola, há 151 anos ensinando meninose rapazes desde o primeiro ano do fundamental até o terceiro do ensinomédio. A supervisora pedagógica Maria Elisa Penna Firme Pedrosa lembrouhoje (29), a propósito, que nos últimos quatro anos, o colégio dos fradesbeneditinos só não conquistou o primeiro lugar no Enem em 2006, devido amudança nos critérios de avaliação das provas de redação. A excelênciafoi comprovada no último vestibular do ano passado, quando mais de 90%dos 73 formandos do São Bento entraram direto para a universidadepública e sem auxílio do Enem.A boa posição do São Bento é basicamente resultado do ensino “humanístico”, explica Maria Elisa.“Cada aluno aprende que todo dia é o mais importante no seuaprendizado, daí cria-se logo uma vinculação profunda entre ele e aescola. Aqui ensinamos filosofia, sociologia, matemática, todas asmatérias num contexto abrangente, no qual interessa o papel do homem emsociedade”. A criança aprende desde cedo princípios de moral, ética ecivismo, além do ensino religioso, sempre com ênfase no indivíduodentro do coletivo. “Quando tratamos de economia, por exemplo, falamostambém de distribuição de renda”. Essa responsabilidade socialtransmitida aos alunos numa época em que estão formando a personalidadeé, segundo ela, a principal razão de a grande maioria manter vínculocom o colégio por toda a vida.O São Bento, de fato, tem umagaleria de ex-alunos tão ilustre quanto eclética, de Noel Rosa e Héliode la Peña a Lamartine Babo, Jô Soares e até Heitor Villa-Lobos, o quepode ser creditado mais aos longos anos de funcionamento do que aoutros méritos: “A curiosidade das pessoas em geral é pelascelebridades que passaram por aqui, mas muitos mais médicos, advogadose outros profissionais de reconhecida competência freqüentaram nossassalas”, diz a supervisora pedagógica. “O mais importante é queensinamos as crianças a gostar de ler, pensar, raciocinar e refletir –não a decorar”.Aprendizado com essa qualificação exigeinvestimento acima das possibilidades da imensa maioria das famíliasbrasileiras. Um aluno do São Bento vale, em média, R$ 1.700 mensais,aí incluídos material escolar, almoço e dois lanches durante as novehoras de permanência diária no colégio. A hora/aula custa R$ 40 e umprofessor do nível fundamental, da primeira à quinta séries, recebe R$ 3.700 por 25 horas semanais. Na escola pública, a hora/aula e o salário giram em torno de um terço disto, no município do Rio de Janeiro, que paga melhor do que o governo do estado.Por isso, a secretária estadual de Educação, Teresa Porto, recebeu o resultado do Enem “com tristeza, mas semdesanimar”. Os dados nacionais apontam que, entre as mil escolas com aspiores notas, 965 são estaduais. No estado do Rio de Janeiro,a situação é absoluta: todas as 50 escolas com pontuação maisbaixa são da rede pública estadual. Para a secretária, a ampliação daoferta de escolas públicas em todo o país é o principal motivo do baixodesempenho. “Hoje, o volume de escolas e de pessoas atendidas é muitosuperior ao que existia anteriormente. O que o poder público nãoconseguiu fazer foi garantir qualidade a essa quantidade. Por isso,agora o nosso esforço é dar qualidade a essas instituições, mas osresultados serão visíveis só em cinco anos”.As palavras daprofessora Teresa reforçam as de Maria Elisa: “Não dá para fazer escola séria sem investimento”. Ela vaialém e defende não apenas a reformulação do vestibular, como oMinistério da Educação propõe, mas também a extensão dessa mudança aosensinos fundamental e médio. “Adotar o Enem como acesso ao terceirograu não muda o ensino médio nem os cursinhos. A prova disso é aquantidade de ofertas de apostilas para o Exame Nacional do EnsinoMédio na internet”.