Escola indígena do Tocantins fica com a nota mais baixa no Enem

28/04/2009 - 21h48

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os dados divulgados hoje (28) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas EducacionaisAnísio Teixeira (Inep) apontam não só asexcelências no ensino, mas também problemas estruturaisda educação brasileira. Na outra ponta do ranking, aEscola Indígena Tekator, de Tocantinópolis (TO) obtevea nota mais baixa entre todas as participantes: 25,1 pontos em umaescala de 0 a 100.Para a diretora deensino médio da Secretaria de Educação do Estadodo Tocantins, Luzia América, é “desleal” comparar aeducação indígena ànão-indígena. “Há especificidades que precisam ser consideradas, como a questãocultural, a indefinição de uma proposta curricular etodo atendimento especial que é preciso dar a esse público.As provas do Enem não são voltadas para essa questão”,avalia.O coordenador deeducação indígena do Ministério daEducação, Gersem Baniwa, também concorda que oEnem não é instrumento adequado para avaliar o ensinodas escolas indígenas. “O Enem e mesmo a Prova Brasil sãovoltados para a escola não-indígena, que leva emconsideração os processos de aprendizagem e asmetodologias das escolas não-indígenas. Esses povos têmseus contextos próprios de aprendizagem”, defende.As escolas indígenas,por exemplo, não têm autonomia para definir seus currículos.Já o Enem possui uma matriz curricular pré-estabelecida.Apesar do descolamento entre as duas realidades, o exame éutilizado como processo seletivo para algumas universidades e paraprogramas federais de acesso ao ensino superior. A especialista emeducação indígena e professora da UniversidadeFederal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Onilda Nincao, alerta que oministério deveria criar outros instrumentos para avaliar aqualidade do ensino que é oferecido a esses povos e permitir ainclusão deles nesses programas.Segundo a secretária de educação do Tocantins,a escola Tekator fica em uma região isolada do norte doestado, a 800 quilômetros da capital. Não é fácil encontrarprofessores que se disponham a trabalhar no colégio que éde difícil acesso. Ela acredita que o caso de Tocantinópolisé um retrato do que acontece em todo o país. “Nemmesmo no âmbito federal existe uma proposta de currículopara a educação indígena”, afirma. Além dainadequação do método de avaliaçãoao contexto desses povos, Onilda defende que a falta de professores especializados para trabalhar nas escolas prejudica a qualidade doensino. Ela afirma que esse tipo de ensino precisa de  profissionais capazes de aplicar o ensinobilíngüe e defende a necessidade de uma formaçãocontinuada. “Nós não podemos pegar uma pessoa, sóporque ela é falante da língua indígena, ecolocá-la na sala de aula. É preciso ter uma formação.Essas questões inviabilizam que a escola indígenaintercultural e diferenciada seja uma realidade”, dizSegundo Baniwa, o MECe os estados estão investindo na especializaçãodesses professores e, no momento, há 3 mil participando deformação em nível superior. “As comunidadesquerem uma escola indígena com qualidade e capaz de dar contatambém dos conhecimentos universais que são medidospelo Enem. Para isso é preciso ter um quadro de professorescapacitados. Nos próximos anos será possívelmedir o impacto desse investimento que está sendo feito”,justifica. O coordenador não informou se há algumprocesso em andamento no MEC para criar um modelo específico deavaliação para os índios.