Ibama associa crime ambiental a trabalho escravo, tráfico e exploração infantil no Pará

27/04/2009 - 19h55

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Operação coordenada pelo Ibama apreendeu 5,5 mil metros cúbicos(equivalente a cerca de 370 caminhões carregados) de madeira nobreextraída ilegalmente da Reserva Indígena Alto do Rio Guamá, próxima aomunicípio de Nova Esperança do Piriá no nordeste do Pará. A açãobatizada como “Operação Caapora”, que em tupi quer dizer aquele quevive do mato, lavrou mais de R$ 7 milhões em multas desde 6 de abril.Aterra indígena explorada ilegalmente pertence aos índios Tembé, e érica em madeiras de grande valor como maçaranduba e ipê. A madeiraapreendida estava sendo retirada do lado oeste da reserva que tem cercade 280 mil hectares e 1.500 habitantes. A Operação Caapora não temprazo para terminar. O Ibama pretende percorrer toda a borda da reserva.Segundoo Ibama, em 20 dias de operação, foram fechadas 22 serrarias ilegais;apreendidas cinco armas de fogo, quatro tratores, três caminhões, uma Picape, cincomotocicletas, 11 motosserras, além de computadores portáteis eaparelhos de radiocomunicação. Apesar dos fiscais encontrarem osmotores das máquinas de serrar ainda quentes (recentemente desligados),ninguém foi apanhado e preso em flagrante até agora. Conforme osuperintendente do Ibama no Pará, Aníbal Picanço, as serrariasenvolvidas na extração ilegal de madeira não pagavam impostos eexploravam mão-de-obra de forma análoga ao trabalho escravo, comremunerações inferiores a R$ 10 ao dia. “Esses madeireiros nãosão da região. Tão logo a riqueza termina eles abandonam a região,deixando rastro de pobreza e miséria. O que eles dão de volta: nenhumaassistência social,  benefício nenhum”, disse. Apesar disso, odirigente calcula que extração irregular de madeira fez com que apopulação de Nova Esperança do Piraí triplicasse desde 2004 e hojeatinja mais de 24 mil pessoas. O aumento populacional, apobreza e a ilegalidade da atividade madeireira favorecem a ocorrênciade mais ilícitos. Aníbal Picanço informa que na região é comum aexploração sexual de crianças e adolescentes. “O histórico da região é de exploração sexualprincipalmente em postos na beira da estrada”, informou citando os postos decombustíveis das estradas vicinais que fazem ligação com aBelém-Brasília (BR 153) e a Belém-Marabá (PA 150) como alguns dos locais onde o crime ocorre.Osuperintendente do Ibama também cita casos recentes de pistolagem e detráfego de drogas na região. Na operação foram apreendidos 50 quilos demaconha prontos para consumo e mais cinco quilos de sementes. Também foramencontrados uma plantação com  2.500 pés maconha em uma clareira na floresta.Além do Ibama, participam da operação a Funai, ForçaNacional de Segurança, Polícia Rodoviária Federal, o Corpo de Bombeiros,Batalhão de Polícia Ambiental do Pará e a Secretaria de Meio Ambiente doEstado.A Operação Caapora foi planejada após o fechamento dediversas madeireiras em Paragominas no ano passado. Os fiscais do Ibamadesconfiaram da movimentação registrada nas madeireiras da cidadee verificaram em sobrevôos de helicóptero que a madeira estava sendoretirada da Reserva Indígena Alto do Rio Guamá.A madeiraapreendida pela operação será destinada à construção de 12 escolasmunicipais na região e quatro pontes. Parte da madeira ilegal tambémserá doada à Caritas, entidade da Igreja Católica para atendimentosocial.