Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O governo brasileiro acredita em um cenário “mais favorável” nas relações entre o Brasil e o Equador a partir dos próximos anos, informa a BBC Brasil. Segundo a agência de notícias, o Itamaraty avalia que, se reeleito, o presidente equatoriano Rafael Correa poderá governar sem a pressão política que o levou a adotar um discurso crítico à atuação de empresas estrangeiras no país, incluindo as brasileiras.
Ainda de acordo com a agência, a diplomacia brasileira acredita que, com um eventual novo mandato, Correa “baixe o tom” em seus comentários. “Os problemas que tivemos no ano passado foram fruto de um período de transformações no país [Equador]. E tudo indica que essa fase está se dissipando", disse à BBC Brasil um diplomata brasileiro que a agência não identificou.
Em outubro, o governo equatoriano decidiu expulsar a construtora brasileira Odebrecht do país, alegando falhas na Hidrelétrica de San Francisco, construída pela empresa. Um mês depois, Correa suspendeu o pagamento da obra, financiada pelo BNDES. O pedido de anulação da dívida, no valor de US$ 243 milhões, foi levado à Câmara de Comércio Internacional sem que o governo brasileiro fosse consultado, gerando um mal-estar entre os dois países.
Apesar de a dívida ainda estar sendo analisada pela Câmara de Comércio Internacional, duas parcelas já foram pagas. A terceira e última parcela vence em junho e, se quitada, será vista pelo governo brasileiro como um sinal "extremamente positivo".
O Itamaraty diz que o episódio foi um "mal entendido" e que as relações entre os dois países melhoraram. "Mas ainda não estão 100% normalizadas", afirmou o mesmo diplomata.
Com a polêmica, projetos conjuntos como a construção do Eixo Multimodal Manta-Manaus (um complexo de vias fluviais, terrestres e aéreas que atravessarão os dois países, ligando o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico) foram relegados a “segundo plano” pelo governo brasileiro.
Procurada pela Agência Brasil, a assessoria do Itamaraty não confirmou, nem negou as informações, evitando comentar o assunto.
Analistas de mercado também apostam na melhora das relações entre Brasil e Equador sob um novo mandato de Correa. Os motivos, afirma a BBC Brasil, seriam a crise financeira e a queda do preço do petróleo. Segundo analistas ouvidos pela agência, em função das perdas financeiras, o presidente do Equador vai precisar "ainda mais" do Brasil nesse segundo mandato.
Para o analista Gilberto Souza, da BES Investimentos, o Equador "precisa muito mais do Brasil do que o contrário". "O Equador é responsável por apenas 0,1% da produção da Petrobras, por exemplo. Claro, nunca é bom perder dinheiro. Mas se alguma coisa acontecer, quem sai perdendo é a economia equatoriana", avaliou.
Além de Correa, que não se afastou do cargo durante a campanha eleitoral, outros sete candidatos disputam, hoje (26), a presidência do Equador: o ex-presidente Lucio Gutiérrez, que governou o país entre 2003 e 2005; o empresário Álvaro Noboa, considerado um dos homens mais ricos do país; a socialista Martha Bucaram; o social-democrata Carlos Gonzáles Albornoz; além de Diego Delgado Jara, Melba Jacome e Carlos de La Bastida.
De acordo com a BBC Brasil, as últimas pesquisas de intenção de voto apontam que Correa poderá se reeleger já neste final de semana. Se obtiver a metade mais um dos votos, ou 40% dos votos válidos e uma diferença de pelo menos 10% em relação ao segundo colocado, o atual presidente evitará que a disputa presidencial vá para o segundo turno, agendado, se necessário, para o dia 14 de junho. Ainda segundo a agência, Gutiérrez está em segundo lugar, seguido por Noboa, em terceiro.