Projeções sobre a economia brasileira vão de alto a baixo em tempo de crise

25/04/2009 - 11h24

Daniel Lima e Kelly Oliveira
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - No momento de grande crisemundial, até as projeçõese estimativas dos economistas apresentam muitos contrastes e instabilidade.Governo, mercado, bancos, institutos de pesquisa e entidades declasse prevêem um cenário em que a economia brasileira pode ter desde uma queda de 1,5% até um crescimento de 2%. Háestimativas para otimistas e para pessimistas.O professor Fabio Kanczuk, daFaculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que projeções para o crescimentoda economia são importantes tanto para as empresas quanto paraos trabalhadores. No caso das empresas, as estimativas servem paraque saibam qual será a demanda pelos seus produtos. Um dos parâmetrosque servem de base para os cálculos do desempenho da economia éo Produto Interno Bruto (PIB), a soma dos bens e serviçosproduzidos no país. “Se o PIB éalto [a indústria e o comércio], vão vender maise têm que produzir mais. Se o número é baixo, seproduzir mais vai ficar cheio de estoque e não terápara quem vender e pode até quebrar”, disse KanczukO professor da USPlembrou, ainda, que alguns setores são “muito elásticos”,ou seja, a demanda por produtos cai quando há menorcrescimento ou retração da economia, diferentemente doque ocorre com, por exemplo, itens básicos da alimentação,como arroz e feijão, que as pessoas precisam consumir sempre.

Já para os trabalhadores, asprojeções sobre o PIB têm a ver com adisponibilidade de emprego e até mesmo com as perspectivassalariais do mercado de trabalho. “Em geral, o trabalhador nãodá a menor bola para o PIB. Mas quando o PIB aumenta, cresce oemprego e quando é baixo perde-se o emprego”.

Segundo Kanczuk, um dos motivos paraas estimativas para o PIB serem contrastantes são osdiferentes modelos usados pelos economistas paradefinir a projeção. “Tem gente que acha que o PIB temmais a ver com indústria, outros com comércio, outroscom as commodities”, explicou. Outro fator é o que oprofessor chamou de “jogo político normal”, uma vez que ogoverno, segundo ele, não projeta números ruins para nãopiorar a expectativa do mercado. “Tem ainda gente biruta no mercado que prevêalgo próximo de menos 5% [de retração]. Éaí um jogo de interesse particular. A pessoa arrisca e, seacertar, ganha status”, disse.

Para Kanczuk, as projeçõesfeitas com vários modelos variam de retração de2% à estabilidade, ou seja, 0%, não haveria crescimento. “Éo que dá para obter com os modelos. Sair disso, quetem a ver com questão política, que empurra o númeropara cima, ou de arriscar e colocar o número para baixo paraestimular a carreira”, disse.

A projeção do professoré de uma retração de 1%. “Com os dados que agente tem hoje, a projeção dá negativa. Mas apossibilidade maior é de nos surpreendermos com um resultado maispara cima do que para baixo.”

Para o economista da SulAmérica,Newton Rosa, as projeções sobre o PIB atualmentedependem muito da avaliação que cada um estáfazendo da evolução da crise financeira internacional.Na sua opinião, se for avaliado que as medidas adotadas pelosgovernos estão surtindo efeito e que a economia brasileira ésólida, é possível “trabalhar com umatrajetória de crescimento”. Mas, no cenário em que ocrédito está escasso e, por conseqüência, hámenos investimento e consumo, “a conclusão é que arecessão não só vai pegar 2009, mas vai tambémavançar em 2010”. “Num cenário como esse, a economiabrasileira, que também depende da economia mundial, vaiterminar sofrendo. Conseqüentemente, deve acusar retração neste ano e talvez [um crescimento] medíocre no ano que vem”, disse o economista.

A projeção doeconomista é de queda de 0,8% no PIB deste ano. “Como eutrabalho com um cenário onde a economia vai responderpositivamente às medidas fiscais e monetárias que estãosendo adotadas em todas as partes do mundo, acredito que a gentecomece a ver o esboço de alguma reação ainda nosegundo semestre deste ano”, disse Rosa. “Infelizmente, é bola de cristal mesmo.Por mais que você tente sofisticar as suas projeçõese os seus modelos, você está partindo de pressupostos,de hipóteses que podem se verificar ou não”, acrescentou Newton Rosa. Confira as mais recentes projeções de variaçãodo PIB do Brasil em 2009:Fundo Monetário Internacional (FMI): – 1.3%Federação das Indústrias doEstado de São Paulo (Fiesp): de – 1% a – 1,5%Mercado financeiro (consultados pelo Banco Central): – 0,49%Banco Central: + 1,2%Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea):de + 1,5% a + 2,5% Ministério da Fazenda: + 2%