Oferta mundial de crédito deve se estabilizar em 2010, defendem economistas brasileiros

23/04/2009 - 16h18

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O atual ciclo de crise econômica provocada pela escassez de crédito no mundo pode terminar dentro de aproximadamente um ano, prevê o economista e ex-ministro da Fazenda Delfim Netto. Segundo ele, essa é uma crise de confiança .“Enquanto as pessoas não entenderem que essa é uma crise de confiança , enquanto não conseguir fazer o crédito entre os bancos se restabelecer, ela não vai passar”, disse.Questionado se a situação já não estaria voltando ao que era antes de setembro do ano passado, argumentou que, por enquanto isso “não está tão visível assim”. Apesar disso, considera que dentro de “três ou quatro trimestres o nível de crédito pode voltar ao nível anterior”. Essas afirmações foram feitas após uma sessão dos seminários O Estado da Arte em Economia, que são encontros acadêmicos organizados por Delfim Netto na Universidade de São Paulo (USP).Delfim Netto reconhece que, embora o Brasil não tenha escapado imune, “está numa situação melhor do que sempre esteve”. Só que, por estar em um mercado globalizado, conforme adverte, “o Brasil vai pagar o ônus de estar no mundo”. Segundo ele, a duração e o nível do efeito da crise de liquidez no Brasil dependem em parte do rumo a ser tomado pelas instituições norte-americanas. Mas Delfim considera que há um fator favorável que desvincula o país dos demais: “Os bancos brasileiros têm uma relação mais rígida com seus clientes, e o Brasil Central, finalmente, entendeu que tem mais musculatura para dar suporte ao sistema”. Para Delfim Netto, em momentos de interrupção do crescimento econômico brasileiro, sempre houve dois agentes: crise de energia e desequilíbrio nas contas externas que leva à desvalorização da moeda brasileira. Na avaliação de Oswaldo de Assis Filho, diretor do banco UBS Pactual, essa crise é de duração maior do que a constatada, no início da década de 1930. Assis Filho prevê, no entanto, uma estabilização das condições para daqui a um ano ou, no máximo, dois anos. “Estamos assistindo a um processo de desalavancagem”, disse, referindo-se à retração de investimentos, de consumo, desvalorização de ativos como imóveis, ações. Mas o próprio sistema financeiro leva, conforme acentuou, a uma mudança nesse estágio porque as pessoas precisam continuar a consumir e se há incentivos para uma recuperação. Fazendo uma retrospectativa das intervenções governamentais para o reequilíbrio na circulação do capital, Assis Filho defendeu que elas são necessárias, mas não suficientes. ”É preciso confiança para conceder crédito”, ponderou.Segundo o economista Fábio Kanczuk, o governo deveria ser o “menos ativo possível e o que está dando medo é que o governo decidiu gastar e 'avacalhar' com as metas públicas. E isso pode colocar o Brasil numa caminho ruim de novo, um caminho de que a gente se livrou”. Para ele, a crise vai passar, embora fala a advertência contra “hiperativismo fiscal do governo” .