Mulheres negras de baixa escolaridade são maioria no emprego doméstico em São Paulo

23/04/2009 - 17h51

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Do total de mulheres que trabalhavam na Região Metropolitanade São Paulo em 2008, 16,3% realizavam serviçosdomésticos segundo dados do Boletim Mulher e Trabalho: OTrabalho Doméstico na Região Metropolitana de SãoPaulo (RMSP), divulgado hoje (23) pela Fundação Seade epelo Departamento Intersindical de Estatísticas e EstudosSócioeconômicos (Dieese).A pesquisa aponta queas mulheres ocupavam 45,1% do total de postos de trabalho da regiãometropolitana. Entretanto, representavam 95,4% do total de pessoasque prestam serviços domésticos.Em 2008, 52,9% das empregadas domésticas eram negras,em 2007, esse número era de 55,5%.Em relação ao perfil, a maioria das domésticasestá na faixa dos 25 a 39 anos (39,5%). Estão na faixados 40 a 49 anos, 29,5% e de 50 a 59 anos, 16,9%. Entre os anos de2007 e 2008 o número de mulheres de 18 a 24 anos que seinseriam no mercado de trabalho por meio de trabalhos domésticos caiu de 8,8% para 7,2%.As filhas de domésticas que se tornam domésticas tambémdiminuiu de 9,1% para 7,2%, devido ao maior nível deescolaridade e da preferência por buscar alternativas detrabalho com mais chances de evolução.Comrelação à escolaridade, 61% das domésticasnão concluíram o ensino fundamental e 20,9% nãoterminaram o ensino médio. Outras 17,9% têm o ensinomédio completo ou o ensino superior incompleto.Segundo os dados da pesquisa, em 2008, 72,1% das domésticaseram mensalistas, das quais 39,3% negras e 32,8% não-negras.As diaristas correspondiam a 27,9%, das quais 13,7% negras e 14,3%não-negras.Apenas 36,2% possuíam carteira de trabalho assinada e 41,4%das domésticas eram contribuintes da Previdência Socialem 2008.A pesquisa indicou ainda que 28% das trabalhadorasestavam no mesmo emprego há até seis meses e 25,9%delas há mais de cinco anos. Quanto à jornada detrabalho o boletim afirma que as empregadas mensalistas com carteiraassinada trabalham 44 horas semanais, contra as 38 horas trabalhadaspor aquelas que não têm o registro. Essa jornada detrabalho é aplicada principalmente pelas 5,9% das mensalistasque residem no local de trabalho. Já as diaristas trabalham 23horas semanais, em média.O estudo também apontou que a hora de trabalho dasdomésticas em 2008 correspondia a R$ 3,28. As diaristasganhavam R$ 4,27 por hora, as mensalistas com carteira assinada R$3,46 e as mensalistas sem registro em carteira R$ 2,60.De acordo com oboletim, o rendimento médio mensal das diaristas éigual ao das mensalistas sem carteira assinada, que é de R$422. O das mensalistas com carteira assinada fica em torno de R$ 658.De acordo com os dados do estudo, entre 2007 e 2008, o aumento realde salário para as profissionais desse segmento foi de6,4%Adilma Conceição dos Santos, 23 anos, fazparte do pequeno grupo de empregadas domésticas (20,9%) quecomeçou a cursar o ensino médio. Há quatro anosela resolveu largar o emprego de garçonete para trabalhar nacasa de uma idosa. Ela escolheu o trabalho doméstico porqueprocurava um emprego no qual pudesse dormir para não ter de pagaraluguel. Com carteira assinada, ela trabalha de segunda a sexta e temfolga nos finais de semana.Adilma afirma que tem vontade de voltar a estudar. “Como eu tenhoque acompanhar a idosa de quem tomo conta no período da noite,tive que parar de estudar. Mas pretendo terminar o ensino médioe entrar na faculdade de engenharia. Meu trabalho está bompara mim, por enquanto, porque dá para pagar as contas, massempre queremos algo mais na vida”.A diarista FranciscaPereira da Silva, 49 anos, começou trabalhando como empregadadoméstica aos 19 anos quando veio do Nordeste para SãoPaulo. Grávida, parou de estudar ao final do ensino médioe nunca mais pensou em voltar. Ela afirma que trabalhou com registroem carteira durante 15 anos em uma casa só. Mas resolveudesistir e trabalhar como diarista.Atualmente, ela afirmaque dispensa a carteira assinada, mas não esquece de pagar,por conta própria, a Previdência Social. O intuito égarantir os anos de contribuição para a aposentadoria.“Eu já estava cansada de trabalhar direto e comodiarista eu faço meu horário. Atualmente trabalhoquatro dias da semana em duas casas e um dia da semana eu uso paradescansar e cuidar das minhas coisas. Trabalhando como diarista euganho melhor. Eu gosto do que faço”, disse Francisca.