Urbanistas polemizam sobre o tombamento de Brasília

21/04/2009 - 10h22

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em janeiro deste ano, grande parte da opinião públicade Brasília voltou-se contra um dos criadores da cidade, OscarNiemeyer. O arquiteto propôs a construção de maisum monumento para celebrar os 50 anos de Brasília, a “Praçada Soberania” que em frente à rodoviária do PlanoPiloto abrigaria, além de um obelisco em forma de triângulo,o “Memorial dos Presidentes” e um estacionamento subterrâneopara 3 mil carros. Com menos de um mês de polêmica,Niemeyer desistiu do projeto.

Contra anova obra do arquiteto usou-se o argumento de que o monumentoimpediria aos usuários da rodoviária a visãoplena da Esplanada dos Ministérios e do Congresso Nacional. Assim, a proposta contrariava o tombamento da cidade. O curioso doepisódio é que Niemeyer em defesa do projeto seposicionou contra o tombamento e argumentou que mudar é umacaracterística inerente das cidades.

Aarquiteta Regina Meyer, professora da Faculdade de Arquitetura eUrbanismo da Universidade de São Paulo (USP), também seposiciona contra o conservadorismo do tombamento. “Não sepode tombar uma cidade. Isso aí é de um equívocoextraordinário: decretar a paralisação”, opinaexplicando que arquitetos e urbanistas defendiam o tombamento desde aépoca da ditadura militar (1964-1985), pois “temiam que o plano fossedesvirtuado”.

ReginaMeyer ainda avalia que é necessário a cidade ter algumamargem para transformação. “A cidade do futurotem que ter um lugar para aquilo que o futuro nos dará. Épreciso algum grau de plasticidade para receber o novo.”

ParaLucídio Guimarães Albuquerque, ex-aluno de LúcioCosta na antiga Universidade do Brasil (RJ), “Brasília nãofoi tombada por capricho, não se pode polemizar sobre umacoisa dessas. A cidade deu certo como projeto. Não é umainvenção tola”. Ele fez parte daantiga Comissão de Localização da Nova Capitalem 1954.

O geógrafo Aldo Paviani, professor da Universidade de Brasília (UnB),avalia que “o traçado urbanístico de Brasília eraespetacular”, o problema foi a improvisação ao redorde Brasília, feita desde o início “a solavanco”,como no caso da criação de Taguatinga, primeira e maiorcidade-satélite do DF (hoje região administrativa).

ParaSilvia Ficher, arquiteta e professora da UnB que polemizou contra aPraça da Soberania, “o tombamento não engessa acidade, mas fazem disso um bicho de sete cabeças”. Em suaavaliação, “a área tombada é a que temmenos problemas”, diz apontando a necessidade de se pensar mais naqualidade de vida nas outras regiões administrativas.