Homens e mulheres que marcaram a história de Brasília

21/04/2009 - 11h06

Da Agência Brasil

Brasília - Brasília comemora 49 anos hoje (21) e quem faz parte dessa história, mas algumas vezes fica esquecido na memória de muitos, são os candangos - pioneiros que ajudaram a erguer a capital. A maioria deles chegou à cidade para ajudar na construção, mas caíram no esquecimento.

A cidade foi elaborada pelo urbanista Lúcio Costa e projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Alguns candangos passaram por muitas dificuldades até realizarem os seus sonhos, como é o caso da pioneira Maria de Lourdes Rocha. Ela conta que veio para Brasília em janeiro de 1957, com 23 anos, acompanhando o marido que estava trabalhando na construção da cidade. Maria relembra os momentos de tortura que passou com o filho de quatro meses, os dias em que não tinha o que comer e que morava em um barraco feito de tábua.

“Foi uma época difícil. Fui passadeira, lavadeira, mas sempre tinha em mente que aqui tudo iria mudar, pois não queria voltar para o interior de Minas Gerais. Queria dar estudo ao meu filho. Depois vieram mais dois”, relembra.

Hoje, aos 75 anos, já aposentada, Maria de Lourdes revela que conseguiu o que queria. Seus três filhos estão formados e ela passou em um concurso público, comprou um apartamento e hoje se considera uma pessoa que se deu bem, pois conseguiu construir um patrimônio e, principalmente, realizou o sonho de ver os seus filhos formados.

Para o candango Francisco Alves Pereira, 76 anos, que veio do interior do Ceará para atuar na construção da capital federal, sua trajetória também é marcada por muito sofrimento. Ele conta que era muita gente trabalhando na construção de Brasília com o sonho de que tudo iria mudar, que a vida iria melhorar. E melhorou. “Vi aos poucos a cidade ganhar o seu formato, sua infraestrutura melhorar o dia-a-dia. Cheguei mais ou menos em 1957. Em 1961 casei, as dificuldades vieram, mas sempre tive a esperança de que o meu futuro estava aqui”, relata.

Francisco conta que hoje tem um apartamento, um carro e vive da aposentadoria, mas tem um receio de ter tido ganância. “O que eu tenho e o que eu ganho dá pra viver. Se eu pudesse voltar no tempo, teria investido meu dinheiro em imóveis. Na época não visei isso. Não me arrependo, mas se pudesse voltar atrás eu mudaria isso”, avalia.

Um dos pioneiros mais antigos, o candango Ernesto Silva, 94 anos, ex-diretor da Companhia Urbanizadora do Planalto Central (Novacap), que veio em fevereiro de 1954 escolher o local onde seria construída a nova capital brasileira, conta com muito orgulho que apenas em três anos conseguiram erguer Brasília.

Ernesto Silva disse que construir a capital em tempo tão curto era um pedido de Juscelino Kubitschek, que sabia que quando acabasse o seu mandato e a cidade não estivesse pronta “isso aqui viraria um esqueleto de prédios”, ressalta.

“Tiro como experiência a capacidade de trabalho e a organização que tivemos para construir tudo isso. Era gente de todos os lugares do Brasil em busca de uma oportunidade. Costumo dizer que cuido mais dessa cidade do que de uma filha”, conta aos risos.

Ernesto Silva disse que ainda briga pela cidade e onde tem gente querendo construir algo ele está em volta, fiscalizando para não deixar que alguém mude as características de Brasília.