Vila de trabalhadores resiste à expulsão do Plano Piloto

20/04/2009 - 10h17

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Próximo a um dos limites que demarcam o sudeste do Plano Piloto - entre a pontado Lago Paranoá e o final da Avenida das Nações(Via L-4 sul) - há uma comunidade de 10 mil habitantes que nãodeveria viver ali. O antigo Acampamento, atual VilaTelebrasília, tem valor histórico e simbólico.O lugar é a prova de que a moderna capitalfederal foi, antes de tudo, povoada por trabalhadores.Desde o final da década de1950, autênticos candangos (como são chamados os pioneirosconstrutores de Brasília) ocupam a vila e fazem dela a exceção de uma cidade que tem comoregra a inexistência no Plano Piloto de habitações de pessoaspobres.A Vila Telebrasília já deveria, segundo o tombamento da capital, a cobiça imobiliária,o preconceito de alguns vizinhos e a conseqüente mávontade política, ter sido retirada dali,como ocorreu com mais de 60 acampamentos da época deconstrução da capital.“Teveum dia de reunião que um morador do Lago Sul [áreavizinha e das mais valorizadas em Brasília] disse que nósestávamos poluindo o Paranoá, que nósperturbávamos e que os moleques daqui iam roubar lá”,recorda-se Maria Rosineide Peixoto de Sousa, residente no local há25 anos e ativa participante da Associação de Moradoresdo Acampamento da Telebrasília (Amat).Segundo Dona Neide (como éconhecida), habitantes antipáticos da outra margem do lago egovernantes tratavam como "grandes especuladores" os moradores do local. “Eles perguntavam: como é que vocêsquerem morar ali, um lugar muito privilegiado?”, lembra. “Nóstínhamos um sonho, que para certas pessoas era uma insônia”,lembra com indignação, citando inúmerastentativas do governo do Distrito Federal de retirar os moradores.A Vila Telebrasília -chamada assim após a urbanização e a titulaçãodos lotes (ocorrida em 2007) - já teve vários nomes,sempre de acordo com a empresa que contratava seus moradores. Antes deganhar o nome da extinta Telebrasília, nos anos 1970, foi chamada de Acampamento Camargo Corrêa, Acampamento Dtui(Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos) e AcampamentoCotelb (Companhia Telefônica de Brasília).Enquanto o lugar teve statusde acampamento, foram negadosasfalto, calçada, coleta de lixo e água encanada emtodas as moradias. Ainda hoje, faltam posto de saúde, escola ecreche para todas as crianças, cobra dona Neide.A líder comunitáriaassinala que algumas conquistas só foram atingidas por forçada mobilização cotidiana de moradores, que chegaram afechar a passagem da Avenida das Nações, visitaramsucessivos governadores, fizeram vigília na CâmaraLegislativa e ganharam apoio da comunidade (especialmente daUniversidade de Brasília).

Cadadia, a gente aprende um pouquinho. A gente morre e não aprendetudo”, comenta, sorrindo satisfeita com a vitória, masmostrando-se ainda disposta para a luta e atenta com a revenda decasas de moradores e a destinação dos lotes cercados naVila Telebrasília pela Terracap (Companhia Imobiliáriade Brasília).O ex-acampamento é exceçãoem Brasília porque desafiou a prática de expulsão dos habitantes menos aquinhoados para as regiõesadministrativas mais distantes (antigas cidades satélites aoredor do Plano Piloto) ou para o entorno do Distrito Federal. A mobilização enche de orgulho os moradores, quecolocaram na entrada da vila uma placa com os dizeres “aqui temhistória”. A história é de “resistência”,o nome da principal praça do lugar.