Proibição de amianto pode tornar construção civil brasileira dependente externa, diz FGV

17/04/2009 - 14h28

Lourenço Canuto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A proibiçãoda extração, uso e comercialização deamianto do tipo crisotila no Brasil pode causar um colapso nofornecimento de telhas, que recobrem mais de 50% das moradias nopaís, além de provocar impacto negativo na geraçãode empregos do setor, segundo mostra um estudo da FundaçãoGetulio Vargas (FGV). A pesquisa foi encomendada pelaFederação das Indústrias do Estado de SãoPaulo (Fiesp). O uso de produtos à base do amianto équestionado pelo Ministério do Meio Ambiente e já contacom adesão dos estados de São Paulo, do Rio de Janeiro,de Pernambuco e do Rio Grande do Sul. O estudo realizado pelaFGV destaca que foram usados apenas critérios econômicos sobre oimpacto que a proibição dos derivadosdo amianto provocaria, sem entrar no mérito quanto àquestão da saúde. Segundo a FGV, não hánenhuma alternativa de substituição a curto prazo doproduto, o que poderia levar a construção civilbrasileira a uma dependência externa. O texto destaca tambémque haveria um longo período de adaptação parasubstituir a tecnologia.A retirada de cena douso do amianto colocaria em risco também o andamento doPrograma de Aceleração do Crescimento (PAC). Milhares detrabalhadores do setor participaram ontem (16) de uma manifestaçãona Esplanada dos Ministérios em defesa da exploraçãoe comercialização de compostos de amianto – usados naprodução de equipamentos automobilísticos àbase de fibras e na fabricação de telhas e caixasd'água. Eles tentaram sensibilizar o governo e ospoderes Legislativo e Judiciário sobre a importânciaeconômica do produto e para a manutenção de seusempregos. Entre ocupações diretas e indiretas, o setoremprega cerca de 170 mil trabalhadores, e responde por R$ 2,6 bilhõesem exportações por ano. A cidade de Minaçu, nonorte de Goiás, concentra a única mina de amiantocrisotila da América Latina.O movimento realizadoem Brasília em defesa do amianto foi promovido pela ComissãoNacional dos Trabalhadores do Amianto (CNTA) e centrais sindicais.Josélio Pires Cunha, um dos manifestantes, afirmou que estáaposentado e trabalhou na reserva de Minaçu durante oito anos enão teve nenhum problema de saúde. Segundo ele, atecnologia hoje empregada para extração do amianto étoda feita por máquinas e utiliza água para evitar apoeira do produto, apontada como elemento cancerígeno. Eledisse que "muito mais perigosa é a manipulaçãode amônia" feita na cidade goiana de Niquelândia "eninguém fala nada".Romeu PetrônioSouza, outro morador da cidade que estava na manifestação,afirmou que, se a mina for fechada, município de 30 milhabitantes vai virar uma cidade fantasma. Segundo ele, "quandomorre uma pessoa de 70 anos na região, todos dizem quefoi por causa do amianto". "Mas a média de vida dobrasileiro não está abaixo dos 70?", pergunta.Matilde Siqueira, também moradora de Minaçu, tem umirmão que é funcionário da mineradora queexplora o amianto. Ela diz que apesar da segurança que hojeexiste, sua família fica sempre preocupada com a possibilidadedele adoecer.O governador de Goiás,Alcides Rodrigues, já se reuniu com o presidente do SupremoTribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, para defender a atividade, apropósito de ação impetrada na Corte pelaAssociação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT)e pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiçado Trabalho (Anamatra). Eles questionam a Lei federal 9.055/95 quepermite a exploração e a comercializaçãodo amianto crisotila no país. Na ocasião, o governadordefendeu que o amianto crisotila, é diferente do tipoanfibólio, e não oferece maiores riscos se exploradocom as devidas precauções. Além disso, Rodriguesmencionou a importância econômica do produto para oestado.