Cento e cinquenta novos Pontos de Cultura indígenas serão instalados até o fim de 2010

16/04/2009 - 22h09

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um convênio entre a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério da Cultura vai permitir a criação de 150 novos Pontos de Cultura em comunidades indígenas de todo o país. Trinta comunidades dos estados do Acre, Amazonas, de Mato Grosso, Rondônia e Roraima serão contempladas na primeira etapa do projeto - que deve ser concluída ainda este ano, ao custo de R$ 6,4 milhões. Mais 60 equipamentos vão ser inaugurados até o fim de 2009 e os 60 restantes, até o fim de 2010.

Segundo Célio Tuno, secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura (Minc), além de potencializar as iniciativas culturais de cada comunidade, fortalecendo e resgatando manifestações tradicionais como a dança e o artesanato, os Pontos de Cultura possibilitarão que os índios aprendam a lidar com recursos tecnológicos digitais e audiovisuais.

A capacidade dos Pontos de Cultura servir à autonomia das comunidades beneficiadas também é ressaltada pelo presidente-substituto da Funai, Aloisio Guapindaia. “No momento em que falamos de desenvolvimento sustentável dessas populações, dizemos que também é necessária uma política cultural, pois esse desenvolvimento tem que estar baseado nos valores culturais desses povos. E os Pontos de Cultura reforçam essa concepção", disse.

Desde 2004, 33 comunidades indígenas já haviam sido selecionadas, por meio de editais públicos, para abrigar um Ponto de Cultura. Assim, como todos os demais projetos aprovados, eles receberam R$ 180 mil, divididos em três parcelas, valor que tem de ser investido na aquisição dos equipamentos (computadores, mini-estúdios de gravação, câmeras digitais, ilha de edição, etc) e na capacitação dos profissionais necessários à execução do projeto de trabalho apresentado pela entidade beneficiada.

Já pelo convênio assinado hoje, a Funai irá firmar parcerias com entidades responsáveis por escolher e capacitar as futuras comunidades beneficiadas. Para a primeira etapa, a entidade escolhida foi a Associação Cultura e Meio Ambiente (ACMA) – Rede Povos da Floresta, que definiu que os 30 primeiros Pontos de Cultura serão divididos por três pólos: Alto Rio Juruá (Marechal Thaumaturgo – AC), Alto e Médio Rio Negro (São Gabriel da Cachoeira - AM) e Escola dos Professores Indígenas (Rio Branco – AC).

De acordo com Turino, a criação dos novos Pontos de Cultura é fruto da cobrança dos próprios povos indígenas. “Essa é uma grande demanda. Os indígenas clamam para sair dessa idéia da tutela [do Estado] e para se assumirem como protagonistas de seu processo de transformação. E, nesse sentido, os Pontos de Cultura têm alcançado resultados excepcionais”, afirmou o secretário, citando exemplos como a realização de filmes nas aldeias e a criação de uma rede virtual para troca de experiências pela internet.

Para o coordenador estratégico da Rede Povos da Floresta, Ailton Krenak, os Pontos de Cultura são um importante instrumento de sustentabilidade. “Integrado a outras ações já realizadas pelas comunidades, eles vão potencializar a sustentabilidade local”, disse, explicando o cuidado que as 30 comunidades contempladas nesta primeira fase já desenvolvam outros projetos economicamente sustentáveis. Sob este aspecto, diz Krenak, os novos equipamentos serão mais uma ferramenta emancipatória.

“Pensar um Ponto de Cultura como gerador de recursos local é um sonho ainda muito distante. Eu não imagino como uma comunidade, com um simples aporte de recursos, vai se transformar em uma geradora de recursos. Ela não vai vender produtos culturais de imediato”, diz Krenak. “Eu acho que a potência dos Pontos de Cultura é consolidar [negócios], mas o caminho que existe entre instalar um ponto e a criação de uma efetiva rede de venda de produtos culturais pode demorar”, disse.