Anvisa vai reavaliar permissões para uso de 14 agrotóxicos no país

16/04/2009 - 19h38

Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está reavaliando a liberação e condições de uso de 14 tipos de agrotóxicos utilizados no Brasil. A maior parte deles já foi proibida em países da União Européia e África, além dos Estados Unidos e China. Os agrotóxicos estiveram presentes em nivel elevado nas amostras de 17 tipos de alimentos analisadas pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Para), da Anvisa. A reavaliação não vai significar necessariamente que os produtos terão seu uso proibido. A Anvisa poderá manter a atual permissão, porém com critérios mais rigorosos de liberação como já aconteceu anteriormente com o veneno conhecido como chumbinho. “O aldicarb, que é o tal do chumbinho, a gente reavaliou e estabeleceu um programa severíssimo de controle. Ele só pode ser utilizado em quatro estados, com seis mil produtores cadastrados. Porque o produto era desviado e um monte de gente se contaminava nas cidades grandes”, disse o gerente geral de toxicologia da Anvisa, Luís Cláudio Meireles. Para Meireles, o fato dos produtos que estão sendo reavaliados agora terem sido proibidos em outros países é um indicativo de que eles têm grandes chances de serem, também, banidos do Brasil. “É um bom indicativo. Até porque o Brasil é signatário de acordos internacionais, são produtos que estão em listas de controle internacional... E dificilmente os países proíbem por questões agronômicas exclusivamente. Geralmente os produtos são banidos por causam danos à saúde e ao meio ambiente. E eu acho que nós não somos muito diferentes dos outros seres humanos do planeta”, afirmou. A principal preocupação das autoridades de saúde com o uso de agrotóxicos é com os trabalhadores rurais. No Brasil, o clima quente propicia maior absorção das substâncias, e a carga de trabalho dos trabalhadores do campo é mais alta que em outros países. Além disso, eles, geralmente, não utilizam proteção na hora de aplicar os produtos, e muitas vezes sequer lêem os rótulos. A professora de toxicologia da Universidade de Brasília, Eloísa Caldas, afirmou que os trabalhadores rurais estão mais expostos aos efeitos danosos dos agrotóxicos do que a população que consome os produtos. “Nenhum dos pesticidas utilizados no Brasil têm efeito cumulativo. E algum efeito pode ser causado no organismo somente se for consumida uma quantidade excessiva do produto durante um período longo de tempo”, disse. Na opinião de Eloísa Caldas, não basta apenas alertar à população sobre as hortaliças e os legumes com quantidades de resíduos de agrotóxicos acima do permitido, mas que ela seja orientada sobre a melhor maneira de como consumir os produtos contaminados. “A população em geral não deve deixar de comer pimentão nem nenhuma outra coisa. As pessoas precisam apenas lavar os produtos bem lavados, com água e sabão e podem ingerir sem medo”, afirma a professora, fazendo menção ao pimentão, tomate e morango onde foram detectados resíduos de agrotóxicos acima do permitido pela Anvisa. “Os riscos que as presenças dessas quantidades de resíduos significam são muito menores que os riscos que uma pessoa corre se deixar de se alimentar corretamente. Uma dieta pobre em nutrientes que estão contidos nessas frutas e legumes que contém resíduos de pesticidas, isso sim causa câncer”, disse ainda Eloísa Caldas. A professora também ressaltou que os produtos não precisam ser cozidos ou ingeridos sem casca para evitar uma possível contaminação de agrotóxicos. Segundo ela, a lavagem é suficiente.