Crise é diferente das anteriores e precisa de respostas próprias, avaliam especialistas latinos

15/04/2009 - 18h56

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Não háuma fórmula para amenizar os efeitos da crise econômicainternacional na América Latina. Mas, em um ponto, háconsenso entre os altos executivos e representantes de governos einstituições multilaterais que participam do FórumEconômico Mundial da América Latina: a atual crise édiferente das vivenciadas em décadas anteriores pela regiãoe a América Latina precisa encontrar as própriasrespostas. Para o ex-presidente do Banco Central ArmínioFraga, a América Latina não pode ir atrás dasmesmas soluções adotadas pelo G7 (grupo das seteeconomias mais desenvolvidas do mundo). “Não é comoas [crises com] que estamos acostumados. Não é uma crise política,de balança de pagamentos, de inadimplência ou deinflação. Também não temos o tipo debolha de alavancagem que vemos noutras regiões e, por isso,não podemos buscar as mesmas soluções adotadaspelo G7”, disse ele, ao debater sobre o cenário econômicoregional para 2009. No entender de Ricardo Marino, diretor doItaú/Unibanco, não é uma questão de criseestrutural na região, mas uma “contraçãocíclica exportada de fora”. Para Marino, a AméricaLatina está menos vulnerável, devido aos ajustesmacroeconômicos da década passada. Mas nem por isso nãocorre riscos. Entre os temores manifestados no encontro está ocrescimento do desemprego. “Estamos vendo, ou veremos logo,taxas de desemprego de dois dígitos”, alertou Felipe LorrainBascuñán, professor de economia da UniversidadeCatólica do Chile. Bascuñán destacou o papel do Estado, nãoapenas na criação de novas vagas, mas também nacapacitação dos trabalhadores para preservaçãodo emprego. E defendeu a importância de subsídios paraa criação de novas vagas de trabalho.Osprocessos eleitorais deste ano na região tambémpreocupam os participantes do Fórum Econômico Mundialda América Latina, que integra o calendário doFórum de Davos, na Suíça. Háreceios sobre o que definem como “retrocessos políticos”.“Estamos iniciando uma nova rodada de eleições, eisso aumenta as chances da volta do populismo e a adoçãode medidas sem sustentabilidade”, alertou Maurício Cárdenas,diretor da Iniciativa para a América Latina do BrookingInstitute, dos Estados Unidos.Mais cedo, ao divulgarrelatório da Organização de Cooperaçãoe Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre as perspectivaseconômicas da América Latina para 2009, oeconomista-chefe do Departamento de Desenvolvimento da OCDE, JavierSantiso, também manifestou preocupação com aseleições latino-americanas. “Seja qual for a saídapara essa crise, mais rápida ou mais lenta, o ruído dosciclos eleitorais também vai permear os mercados financeiros”.O relatório mostra que os mercados financeiros se tornam maisnervosos em períodos eleitorais. Cárdenas disseainda que os incentivos públicos são bem-vindos, masque é preciso tomar cuidado com as políticas desubsídios a determinados grupos ou setores. “Temos que tomarcuidado para que em um segundo momento esses setores ou grupos possamse manter com suas próprias pernas”, alertou.JáAlícia Bárcena Ibarra, secretária executiva daComissão Econômica para a América Latina e oCaribe (Cepal), considerou importante a proteção aosinvestimentos na região. “Apesar de estarmos perdendo umpouco de receita, temos que proteger os investimentos”. Ela tambémdefendeu maior diálogo entre o governo e a iniciativa privada paraque o impacto da crise seja uniforme sobre todos os segmentos. “Émuito importante a coordenação entre o que os governospretendem fazer, o setor produtivo e o privado. Estamos vendogovernos anunciando medidas sem ouvir o setor privado”, disse.