Políticos tentam acordo para demarcação de área indígena em Mato Grosso do Sul

14/04/2009 - 21h19

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Se depender de acordoentre a classe política, fazendeiros e índios da etniaTerena, os conflitos na área da aldeia Cachoeirinha, em MatoGrosso do Sul, estão longe do fim. Após se reunir hoje(14) com o ministro da Justiça, Tarso Genro, e das RelaçõesInstitucionais, José Múcio, o governador AndréPuccinelli (PMDB) garantiu que os indígenas de seu estado “nãoquerem tanta terra, como a Funai (Fundação Nacional doÍndio) quer dar a eles. Os índios querem menosterra e mais programas sociais que estamos levando para as aldeias”,disse o governador. Mas para o índioMarcos Terena, membro da etnia e que também éarticulador dos Direitos Indígenas naOrganização das Nações Unidas (ONU), ascomunidades Terena não querem abrir mão dos 33,5 milhectares previsto no diagnóstico elaborado pela Funai para osindígenas de Mato Grosso do Sul. “É muitodifícil que isso aconteça. As liderançasindígenas tradicionais, principalmente as mulheres, nãoabrem mão da demarcação das terras como foifeita recentemente em análise antropológica ehistórica pela equipe da Funai. As naçõesterenas vivem sobre a orientação matriarcal. Sãoas mães que decidem e elas não abrem mão. Ogovernador vem declarando isso por várias vezes mas ainda nãomostrou nenhum documento assinado por nenhum índio”, disseMarcos Terena.Da reunião,também participaram deputados federais e estaduais de MatoGrosso do Sul. O ministro Tarso Genro assumiu o compromisso de pedir aoMinistério Público Federal a criação deuma Câmara Conciliadora. Considerando que é um conflitojá estabelecido, a formação da câmarapoderá ser solicitada pelo MPF e coordenada pela Advocacia-Geral da União (AGU), de acordo com o ministro da Justiça.“O acordo depende da concordância entre as partes visto quehá famílias que estão estabelecidas na áreahá mais de 100 anos. Todos precisam ser ouvidos”, disse Genro. Marcos Terena classificou a decisão de “acordo de compadres"e destacou que nenhuma liderança indígena foi convidadapara a reunião com os ministros. “Nenhum índio foiconvidado, como também não havia ninguém dadireção da Funai. Trata-se de um acordo de branco combranco. Esses acordo podem existir, a gente vai assistir, mas o índioTerena não conhece e não abre mão dos seusdireitos. É um compromisso moral”, afirmou Marcos Terena. O objetivo da reunião,de acordo com o governador de Mato Grosso do Sul, também foi de sensibilizar o governoe juntar forças políticas com o objetivo deconvencer o Ministério Público Federal para queaceite uma demarcação com menos terras para os índiosdo que o que está previsto no estudo realizado pela Funai. “Seos próprios índios querem assim, seria bom se o governoaceitasse, se os produtores aceitassem, se a bancada federalaceitasse. Só está faltando o Ministério PúblicoFederal aceitar. Acreditamos que haverá boa vontade por partedeles também e se eles aceitarem a Funai tambémaceitará”, disse AndréPuccinelli. O governador afirmouainda que os programas sociais desenvolvidos por seu governo éque dão condições de sobrevivência aosTerenas. “Os Terenas são os índios que tem maiscontato conosco. Somos nós do governo do estado do Mato Grossodo Sul que damos aos índios alimentos, patrulha mecanizada,vale-universidade, casas construídas lá, na aldeia eescolas. Não é a Funai que faz isso. Creio queconseguiremos conter os ânimos porque de ambos os lados háclima quente. Eu não quero que aconteça nada. Nãoquero que um índio seja sacrificado, não quero que umcidadão comum seja sacrificado”, afirmou. Marcos Terena não concordou com a afirmação do governador de Mato Grosso do Sul. Segundo ele, “o atendimento social que o governo federal faz ao povo terena e opróprio governo estadual também faz é apenas odever institucional que todo governante tem que ter com suapopulação. Não é um favor, não éuma concessão especial”.