Corte antecipado de cana para aumentar capital de giro da indústria gera emprego em São Paulo

14/04/2009 - 21h11

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Pela primeira vez em seis meses de crise econômica global, onível de ocupação industrial em SãoPaulo registrou variação positiva. Segundo a Federaçãodas Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), noperíodo fevereiro-março, há um saldo positivo de7.500 postos de trabalho (número arredondado, variaçãopositiva de 0,31%). Nos meses de dezembro de 2008 e janeiro de 2009, o índice deemprego foi de -1,3%; e no período janeiro-fevereiro desteano, de -1,8%.A Fiesp atribuiu o resultado positivo ao setorsucroalcooleiro, que ocupou 26.933 trabalhadores entre fevereiro emarço. O desempenho contrasta com o resultado obtido em outrossetores industriais, que registraram baixa de 19.433 postos detrabalho. A razão das contratações na produçãode álcool e açúcar foi a antecipaçãoda colheita da cana em São Paulo, geralmente feita nos mesesde abril. Foi preciso antecipar a colheita para que o setorgerasse fluxo de caixa para capital de giro, explicou a Fiesp. “Ocapital de giro é uma coisa que sumiu e ficou muito cara. Osbancos estão resistindo muito em emprestar para o setorsucroalcooleiro”, disse o gerente do Departamento de Economia daFiesp, André Rebelo.“Em vez de pegardinheiro emprestado, os produtores resolveram espremer cana”,completou o economista. Ele destacou que também estásendo colhida a cana que não foi processada no final do anopassado.Apesar do resultado positivo, os dados acumuladosmostram o impacto da crise financeira mundial no setor detransformação no estado mais industrializado do Brasil.Conforme a pesquisa sobre nível de emprego em SãoPaulo, entre dezembro do ano passado e março deste ano, osaldo é de 66.500 postos de trabalhos fechados. Nacomparação estatística dos meses de março de2008 e março de 2009, o resultado é ainda pior: menos133 mil empregos na indústria. Em 12 meses, o resultado éde 1,3%, ainda positivo, pois inclui no período os meses queantecederam a crise, quando havia crescimento em váriossubsetores industriais.Segundo Rebelo, os resultados são“meio bons”, pois “a maioria dos setores estádesempregando”. Para ele, “acrise ainda está fazendo estragos”, e ninguém podeprever o comportamento da economia. “Eu não sei se o fim dacrise é nesse patamar mais baixo ou se tem uma retomada emelhoria pra sair desse buraco. E quem falar que sabe estámentindo”, afirmou.“A gente estava comemorando que oBrasil ia ser o país que menos ia sentir a crise, aíveio o resultado do PIB [Produto Interno Bruto] e foi umapaulada para baixo. Aí falaram que no primeiro trimestreiríamos sair da crise. Não saímos”, lembrouRebelo. Ele disse que o “estrago” no PIB e na produçãoindustrial “foi muito grande”, mas, no emprego, “ainda foipequeno”.Além da alta de ocupações nossetores de processamento de álcool (produção decombustível, 23,8%) e açúcar (produçãoalimentícia, 9,7%), a Fiesp identificou no mês de marçoligeira variação positiva em mais três setores:couros e calçados; móveis e produtos diversos(brinquedos). “Isso aí é efeito do câmbio nossetores que estavam sofrendo uma competitividade ruim”, explicouRebelo.De acordo com o economista, chama a atenção,no entanto, o fato de o setor de automotores, reboques e carrocerias– beneficiado desde dezembro com a isenção e reduçãode Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículosde passeio – ter registrado queda de ocupações de1,7% em fevereiro e março ou de 6,7% no período dedezembro de 2008 a março deste ano.De acordo comRebelo, as demissões ocorrem devido à expectativa dediminuição de atividade (a projeção dosetor é de queda de produção de 11% em 2009).“As empresas estão demitindo porque estão olhandopara a frente e não estão vendo novas vendas. Se nãotem venda no futuro, não tem produção. Se nãotem produção, paga-se o salário do trabalhador eele não gera valor para a empresa.” Por isso, acrescentou,manda-se embora, para não quebrar. “Não é pormaldade.”Rebelo também vê limites nos efeitosdas políticas de isenção de IPI. “O bomdesempenho de março não se sustenta, estáassociado à redução do imposto. Gera antecipaçãoda decisão da compra, o que é um efeito bom, mas aprorrogação tem efeito menor”, ressaltou, lembrandoque uma nova compra de veículos não aconteceráem breve.A curva do nível de emprego na indústriadesenhada pela Fiesp repete padrão já verificado peloInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com aPesquisa Mensal de Emprego, e pelo Ministério do Trabalho eEmprego, com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).As três pesquisas usam metodologias e recortes diferentes. Apesquisa da Fiesp se baseia em amostra de 3 mil empresas informantes(representando 50% do produto industrial) e considera ocupaçõesformais divididas por 22 subsetores do estado de São Paulo. Apesquisa do IBGE baseia-se também em dados amostrais e érealizada para medir o número de ocupações emseis regiões metropolitanas; enquanto o Caged tem caráterde registro censitário e é elaborado para medir avariação de postos com carteira de trabalho assinada em15 subsetores agrupados.Além da variaçãosetorial, a Fiesp verificou diferenças regionais nos níveisde ocupação e emprego. Se, no estado de SãoPaulo, o resultado é positivo (0,31%); na chamada Grande SãoPaulo (região metropolitana da capital), o desempenho éinferior (-1,05%); o que contrasta com os resultados positivos dointerior (1,33%).As diferenças regionais confirmam osresultados setoriais. As regiões que apresentaram os melhoressaldos de emprego são aquelas onde estão localizadas aslavouras e as unidades de processamento da cana para fabricaçãode combustíveis ou de açúcar – Araçatuba,Araraquara, Presidente Prudente, Botucatu e Jaú.