Em livro, psicólogas mostram como abuso sexual contra crianças pode ser evitado

12/04/2009 - 17h06

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O abuso sexual contra crianças pode ser evitado. É o que defendem a professora do departamento de psicologia da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Lucia Cavalcanti de Albuquerque Lins e a bolsista e pós-doutoranda Eliane Aparecida Campanha Araújo, no livro Prevenção de Abuso Sexual Infantil: um Enfoque Interdisciplinar.A obra foi lançada na semana passada, em São Paulo. Lucia e Eliane mostram no livro que pode-se evitar a violência sexual contra as crianças com a participação do Estado, a preparação das próprias crianças para o reconhecimento do abuso e a aplicação de punição aos responsáveis pelos abusos.“Temos vários tipos de prevenção. Em uma delas, a criança é ensinada a agir de forma a se proteger. E pode-se começar a trabalhar com a criança desde muito pequena, sem precisar falar a palavra sexo”, disse Lucia.O trabalho de educar a criança para se proteger contra a violência já vem sendo desenvolvido na cidade de São Carlos (SP) e está sendo copiado em outras regiões do estado. As crianças fazem um curso, em que são ensinadas a dizer não ao agressor e a sair rapidamente de uma situação de violência, contando o fato imediatamente a algum adulto de sua confiança.“Ensina-se à criança que há dois tipos de segredo. Um deles bom, como esconder uma festa de aniversário surpresa. Mas o segredo ruim - como alguém que faz algo que ela não gosta - esse, a criança não pode guardar. Esse, ela tem de compartilhar com um adulto de confiança, alguém em casa ou uma professora”, esclareceu Lucia.A outra forma de prevenção, na avaliação da professora, é o Estado cumprir seu papel. Segundo ela, crianças que vivem em áreas sem lazer, por exemplo, são mais sujeitas a abusos sexuais, principalmente quando esse fator é aliado à falta de uma boa supervisão dos pais. “O abuso pode ser prevenido pelo governo, pelo Estado. Por exemplo, injetando dinheiro em programas de capacitação e conscientização, criando sociedades mais seguras que respeitem e protejam a criança e oferecendo lazer e lugares onde a criança possa ficar, algo como uma creche, com gente capacitada”, explicou a professora.Lucia reconhece que essas formas de prevenção são insuficientes se a Justiça também não exercer o seu papel de punir o agressor. “Não adianta fazermos um trabalho com o professor para ele identificar a violência contra a criança se depois o sistema não fazer nada. Em São Carlos, até então, a impunidade era geral. O agressor sexual não era punido. E essa é uma mensagem complicada porque você está dizendo para a sociedade que esse delito não importa, que é café pequeno”, analisou.Por isso, ela defende que a criança vítima de abuso sexual possa contar à Justiça o seu caso e apontar o agressor, proposta que recebeu o nome de Depoimento sem Dano e que vem sendo estudada pelos conselhos de psicologia em todo o Brasil.Segundo Lucia, esse ato de prestar um depoimento à Justiça é sempre traumático para a criança, mas é, ainda assim, melhor do que ela silenciar sobre a violência da qual foi vítima. “Ao contar, vê-se que aquilo teve um efeito sobre ela, é compartilhador. Mas isso deve ser feito com acompanhamento de gente capacitada. Ela não deve fazer isso na frente de um advogado que vai fazer perguntas ríspidas, incutindo culpa nessa criança”, afirmou.