TV Brasil exibe debate especial sobre politicas de cotas para as universidades

08/04/2009 - 18h57

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasiltem política de cotas desde o início da República.Ainda no Século 19, o novo regime previu a destinaçãode terras para imigrantes europeus. No atual períododemocrático, a Constituição Federal de 1988estabeleceu cotas para portadores de necessidades especiais nosconcursos públicos e reservou 30% das vagas nos partidospolíticos e coligações eleitorais paracandidaturas femininas. Apesar dejá conviver com sistemas de cotas há tanto tempo, aspolíticas de reservas de vagas para negros adotadas em algumasuniversidades brasileiras geram significativa polêmica noambiente acadêmico e em toda a sociedade. Para a pesquisadoraMafoane Odara, consultora em relações raciais ediversidade da Universidade de São Paulo (USP), a celeuma ésinal de que no Brasil há preconceito, discriminaçãoracial e luta política.“Estamosfalando de disputa de poder e racismo, do preconceito e dadiscriminação de um pedaço da sociedade que nãoaceita que um grupo, não-hegemônico-padrão, saiado lugar que ocupa. Alguém vai ter que levantar para alguémsentar”, afirma a pesquisadora, ao explicar a disputa em torno devagas nas universidades brasileiras.Ocoordenador executivo da Comissão de Vestibulares daUniversidade Estadual de Campinas (Unicamp), Leandro Tessler,ressalta que existem razões práticas e ideológicaspara a polêmica sobre as cotas raciais para ingresso nauniversidade. “Ninguémse preocupa quando tem política afirmativa para os cursos doProUni [Programa Universidade para Todos, que fornece bolsas deestudos para o curso superior em faculdades particulares]. Nuncaouvi nenhum intelectual reclamando disso, mas, quando se fala dasvagas do curso de medicina da USP ou da Unicamp, é uma grita.”Tessler lembra “o mito da miscigenação, da igualdadeentre todas as pessoas”, no qual diz acreditar. Noentanto, ele é contra a política de cotas e defende osistema de bonificações para alunos negros e alunosegressos de escolas públicas, adotado na Unicamp. Para MafoaneOdara, a política de cotas “é um remédio que oBrasil precisa tomar, para ter uma sociedade mais justa, igualitária,democrática e colorida”. Isso, sem esquecer de açõesque também melhorem a qualidade do ensino público,ressalta. Apesquisadora da USP e o coordenador do vestibular da Unicamp sãodois dos três convidados do programa 3 a 1 que a TVBrasil exibe hoje (8), às 22 horas, no Canal 2 (sinalaberto). Além dos dois debatedores o programa, mediado pelojornalista Luiz Carlos Azedo, tem a participação dosenador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-reitor da Universidade deBrasília (UnB).Apósa gravação do programa, o senador lembrou que, quandofoi reitor, na década de 80, recebeu a visita de umapesquisadora norte-americana com quem percorreu o campus daUnB. Ao fim da passeio, Cristovam perguntou à visitante sehavia notado muitas diferenças entre uma universidade doBrasil e as americanas. A pesquisadora foi direta: “Não hánegros na universidade brasileira”.