Com crise, quadro de melhorias sociais começa a ser revertido, diz FGV

08/04/2009 - 17h07

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os brasileiros com rendas mais elevadas, integrantes da classe A e B,foram os que sofreram de forma mais intensa os efeitos do agravamentoda crise financeira internacional, a partir de setembro do ano passado. No mês de janeiro desteano, no entanto, as perdas foram ainda maiores para essa parcela dapopulação, que compreende aqueles com renda domiciliar superior a R$4.807 mensais, e se ampliaram para faixas de rendimento inferiores,como a classe C (com renda entre R$ 1.115 e R$ 4.807).Deacordo com um estudo divulgado hoje (8) pela Fundação Getulio Vargas(FGV), as classes A e B que acumulavam, nos últimos cinco anos até operíodo pré-crise, um aumento de 35% de participação na populaçãobrasileira, registraram queda de 2,74% somente em janeiro. Já a classe C, que havia aumentado sua participação em 25% desde 2004, no mesmo mês registrou uma perda de 2,17%.Poroutro lado, as classes mais pobres, que vinham perdendo integrantes, oque na maioria dos casos representava processos de ascensão social,sofreram movimento inverso. A classe D, que inclui brasileiros com rendaentre R$ 804 e R$ 1.115, acumulava perda de 15,9% nos últimoscinco anos até a crise e somente em janeiro recuperou3,03%. A classe E, a mais baixa da pirâmide, com renda de até R$804, acumulava perda de 40,3% desde 2004, e no primeiro mês desteano subiu 6,73%.De acordo com o economista da FGV Marcelo Neri, responsável pelo estudo, um quadro de melhorias sociais conquistadas nos últimos anos começou a ser revertido, principalmente a partir de janeiro. “Aimagem das mudanças na sociedade brasileira depois da crise é como umespelho que reflete o inverso do que vinha acontecendo antes da crise.Quem ganhava perde e vice-versa. A partir, principalmente de janeiro, houve uma mudança súbita de trajetória dos indicadores sociais no país”, explicou.Neritambém destacou que a crise, considerada “atípica”, já que atinge deforma mais intensa a parcela da população com maior renda, também trazprejuízos para os mais pobres. Segundo ele, o processo de redução dasdesigualdades sociais no país, observado nos últimos sete anos, ficouestável em janeiro.Aindade acordo com o levantamento da FGV, as áreas da economia maisatingidas foram aquelas ligadas à indústria e ao setor financeiro.“Eles são os canais naturais de transmissão da crise e a partir de janeiro foram mais fortemente atingidos”, afirmou.Apesardo cenário “crítico”, o economista da FGV se diz otimista em relaçãoaos instrumentos que o país tem para combater esses efeitos. SegundoNeri, é preciso impulsionar o mercado interno para “fazer girar a rodada economia”. Ele citou a redução da carga tributária e da taxa dejuros praticada no Brasil, a ampliação temporária dos valoresrepassados à população por meio de políticas de transferência de renda,como o Bolsa Família, e a implementação de projetos ligados ao Programade Aceleração do Crescimento (PAC) como medidas capazes de reverter asconseqüências da crise.“O Brasil tem um verdadeiro ataque paralidar com tudo isso, mas é preciso usar bem os instrumentos e com avelocidade necessária”, destacou ele, que acredita que o Brasil vaidemorar “certo tempo” para recuperar as perdas aprofundadas em janeiro.