Ex-diretor de Inteligência da PF reafirma que desconhecia participação da Abin na Satiagraha

07/04/2009 - 17h57

Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ex-diretor de Inteligênciada Polícia Federal (PF), delegado Renato Porciúncula,reafirmou hoje (7), na Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) das Escutas Telefônicas Clandestinas da Câmara dosDeputados, que não teve nenhum conhecimento da participaçãode servidores da Agência Brasileira de Inteligência(Abin) na Operação Satiagraha."Enquanto eu estava na Abin e na PolíciaFederal, não tive conhecimento da participaçãoda Abin [na Satiagraha]. E isso não é nenhumdemérito", afirmou.Porciúncula, que foi assessor especial daAbin na gestão do delegado Paulo Lacerda, disse que osdelegados responsáveis por operações da PolíciaFederal têm total autoridade para requisitar colaboraçãode outros órgãos sem que a chefia tenha conhecimento.“O controle da legalidade das açõesdas operações, quem responde [por ele], éo próprio delegado que assinou o pedido. A chefia nãose envolve nessas questões menores. A não ser quando hánecessidade, em virtude da autoridade demandada achar que umaautoridade maior deve fazer a solicitação”,argumentou Porciúncula. O delegado contou como foi seuencontro com Francisco Ambrósio do Nascimento, ex-servidor doextinto Serviço Nacional de Informações (SNI),que colaborou na Operação Satiagraha. Porciúnculadisse que, a pedido de Paulo Lacerda, acompanhou dois delegados em umencontro com Ambrósio para tratar de uma reportagem da revistaIstoÉ, que apontava o ex-agente do SNI como chefe doseventuais grampos realizados durante a Satiagraha.“Nósnos deslocamos até as proximidades da casa desse cidadão,que, depois, fiquei sabendo chamar-se Ambrósio. Lápelas tantas, marcamos em um restaurante, e ele compareceu. Quandocomecei a conversar com ele, percebi que ele não conhecia odoutor Campana [outro delegado presente ao encontro], econhecia superficialmente o doutor Maurício [tambémdelegado].De acordo com Porciúncula, Ambrósioteria se assustado ao saber do teor da reportagem, que o colocavacomo “o cara” da operação. “Ele levou um sustoquando informamos que ele sairia em uma revista como sendo 'o carados grampos'. Ele contou que participou da Satiagraha por indicaçãode um amigo [Idalberto Martins de Araújo, 3ºsargentodo Centro de Inteligência do Comando da Aeronáutica]”,relatou o delegado na CPI dos grampos. Conforme o relato dePorciúncula, Ambrósio teria dito que nãorealizou grampos e que apenas manipulava e-mails a pedido dodelegado Protógenes Queiroz, chefe da Satiagraha. Aindasegundo Porciúncula, Ambrósio disse que percebeu queIdalberto também participava da operação. “Vique ele estava falando a verdade”, reforçou o delegado, queconfirmou ter orientado Ambrósio a depor na PolíciaFederal antes da publicação da revista.Adeclaração contradiz o 3º sargento, que afirmou naCPI que sua participação teria se limitado àindicação de Ambrósio ao delegadoProtógenes.Para o delegado Porciúncula,atualmente, é “normal” agentes da PF levarem para casadocumentos sigilosos das operações. “Antes, erapreciso uma sala para guardar os dados das operações.Hoje, pode-se salvar em um pen drive[dispositivo de armazenamento de dados]”,destacou o deelgado.Em resposta, o deputado Raul Jungmann(PPS-PE), disse que é preciso criar mecanismos de controlepara que impedir esse tipo de conduta. “Esse é umprocedimento ilegal”, afirmou.A Operação Satiagraha foi deflagradaem 2004 pela Polícia Federal para investigar desvio de verbaspúblicas, corrupção e lavagem de dinheiro. Em2008, por determinação da 6ª Vara da JustiçaFederal em São Paulo, resultou na prisão de váriosbanqueiros, diretores de bancos e investidores.