Privatização de bondinhos divide opiniões em Santa Teresa

05/04/2009 - 15h26

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A reforma feita pelo governoestadual no sistema de bondes em Santa Teresa, bairro históricodo centro da capital, esquentou as discussões sobre aprivatização do sistema, anunciadapela Secretaria de Transportes. Perto de receber o segundo bondinho reformado,que deve deixar, no próximo dia 18, a oficina na cidade deTrês Rios, no interior fluminense, moradores, turistas efuncionários tem opiniões opiniões divergentessobre a questão.Nas ladeiras de Santa Teresa, não édifícil encontrar pessoas contra a privatização.Em muitas janelas, estão penduradas faixas contra a investidado governo. A artesã Edinalva Silva, por exemplo, acha que,com privatização, a passagem, que hoje custa R$ 0,60,vai subir. Isso para quem vai sentado – em pé é degraça. O estudante Neymar Quintino também acreditaem aumento de preço, mas acha que a qualidade do transportetende a melhorar. Segundo ele, faltam composições, e osbondes estão sempre atrasados. “Acho que boa parte dosmoradores quer a privatização, mas tem uma genteconservadora, que os impede de se manifestar”, afirmou. A vendedora Arlinda Maria atribui os problemas dosbondes à falta de investimentos do governo. Para ela, nenhumserviço de transporte privatizado no Rio funciona bem. Comoexemplo, citou as barcas. “Conheço pessoas que ficaram àderiva, tem barcas com problemas, que também atrasam”. “Issosem falar no metrô, que está sempre lotado, e daqui apouco não vai dar mais conta do povo.”O turista alemão Christian Höffer estáhospedado em Santa Teresa, no estilo “Cama e Café”, noqual fica na casa de um morador do bairro e não em hotel.Hoffer aponta no sistema a vantagem de estar ao lado das pessoas quevivem no bairro e de ter a chance de, verdadeiramente, conhecer avida por lá. “A privatização tende a separarturistas e moradores pela questão do preço”, avaliou.Parte dos 116 funcionários do sistema, amaioria na área operacional, também é contráriaa privatização. Temem não só asdemissões, mas o fim dos bondes. Afirmam que a reforma dostrilhos ficou mal feita, a rede aérea está precáriae os novos bondes não se adequam às curvas porque lhesfalta mobilidade. Além disso, a nova tecnologia dascomposições requer reparos complexos, com os quais osmecânicos não sabem lidar.“Quando dá problema, resolvemos aqui.Temos peças sobressalentes, marcenaria, sabemos mexer com aparte elétrica e com os motores”, disse um dostrabalhadores, há mais de 30 anos na oficina, mas que preferenão se identificar. “Os novos bondes [de aço]são mais frágeis que os nossos de madeira e vivem comproblemas. Precisam de peças caras que não temos epessoas que saibam lidar com essa tecnologia”, completou. Em entrevista à Agência Brasil,em fevereiro, o secretário estadual de Transportes, JulioLopes, disse que a concessão é uma tendência parao setor. Segundo ele, o governo não tem condiçõesde continuar subsidiando o sistema que tem custo deficitário.Para ele, a concessão vai melhorar o serviço, atendendobem moradores e turistas.