Governo quer privatizar bondes com modelo “Frankenstein”, dizem moradores de Santa Teresa

05/04/2009 - 15h04

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Ao mesmo tempo que avança arestauração dos bondes de Santa Teresa, com a previsãoda entrega de mais uma composição restaurada neste mês,ogoverno estadual promete para este semestre o projeto de licitaçãodo sistema. A associação de moradores do bairro écontra. O argumento é de que a privatização vaiencarecer a passagem de R$ 0,60 e desmontar todo o sistema,deteriorando o serviço.O presidente da Associação deMoradores de Santa Teresa (Amast), arquiteto Paulo Saad, denuncia“desprezo” com os bondes. Ele reclama que os moradores nãosão ouvidas pelo governo, que ainda não comprovou odéficit gerado com o sistema, mas que impõe um novomodelo de transporte, inclusive, com uma composiçãomodelo “Frankenstein”. Há quatro anos, por meio de um convêniocom Banco Mundial, o governo estadual destinou R$ 14 milhõespara a recuperação dos bondinhos de Santa Teresa. Asobras ainda não terminaram, mas moradores e funcionáriosreclamam que parte da reforma está mal feita e que os novosbondes não atendem às especificidades do bairro, comoas ladeiras. “Com uma gestão eficiente, dá paraos bondes funcionarem perfeitamente com a mecânica do Século20 e com rentabilidade”, afirmou Saad. Segundo ele, as demissõesde funcionários, a reforma inadequada do sistema e um bonde“Frankenstein”, o governo provoca “com total desprezo, odesmonte do sistema”, que inclui trilhos, rede aérea,composições, 116 empregados e a comunidade.Os mecânicos confirmam o “desmonte”. Deacordo com eles, a rede aérea está péssima, ostrilhos mal colocados e o novo bonde não se adequou. Osmecânicos também acham que a nova composiçãorestaurada é mais frágil, tem menos mobilidade e vivecom problemas. Recentemente, chegou a disparar com o motorneiro. Alémdisso, como o novo bonde é eletrônico, a manutençãoé mais cara e lenta, pois, depende de técnicosespecializados. “Ao destruir todo o sistema de suporte emanutenção do bonde, a única opçãopara mantê-los é construir outro. Isso é o quequerem. Estão fazendo um [bonde] Frankenstein, que nãotem funcionado. [O Frankenstein] é sensível einstável, sem condições de trafegar. Essamudança tecnológica é suporte para aprivatização e não condiz com o bonde popular,que precisa resistir a uma via instável, compartilhada comônibus e carros”, protestou Saad.Como os bondinhos são tombados, o projetode reforma passou pelo crivo do Instituto Estadual do Patrimônio(Inepac), que autorizou a restauração, desde que ovisual original fosse mantido. O diretor-presidente do Inepac, MarcusMonteiro, informou que um conselho acompanhou e aprovou o trabalho naoficina da empresa contratada para o serviço. Segundo Monteiro, ao término darecuperação, o Inepac fará nova avaliação.“O bonde não é para ficar no museu. Era precisomodernizar para dar mais segurança e conforto. O governoafirmava que a manutenção estava impraticável”,afirmou.Antes da licitação do sistema, oInstituto do Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional (Iphan), onde tramita novo processo de tombamento dosbondes, disse que também precisava ser ouvido. O objetivoseria garantir “que os bondes no modelo antigo continuemexistindo”. “A nova administração deveráoferecer manutenção adequada, por exemplo”, afirmou osuperintende do Iphan no Rio, Carlos Fernando de Andrade. “Nãosignifica que Santa Teresa não ganhará novos bondes,mas que os antigos vão continuar.” Quatro anos após o início dareforma, a Secretaria de Transportes investiu R$ 3 milhões nosbondinhos e R$ 9 milhões em cinco de um total de 15quilômetros de trilhos. Os custos são levados em contana modelagem da licitação, elaborada por umaconsultoria e tratada também no âmbito da Secretaria dePlanejamento. Quando concluída, deve ser apresentada emaudiência pública.