Em vez de emprestar para o FMI, Brasil deve investir mais na área social, diz economista

03/04/2009 - 16h52

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O governo brasileiro deveria investir mais na área social, principalmente em saúde e educação, e em infra-estrutura, em vez de anunciar aporte financeiro para o Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmou o hoje (3) o presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon/RJ), Paulo Sergio Souto."Com as brutais dificuldades que estamos tendo, não só na economia, mas especialmente no funcionamento da sociedade, fazer propaganda que agora  podemos emprestar para o FMI chega a soar de muito mau gosto.  No meu ponto de vista, é quase uma ironia  com o sofrimento de milhões de brasileiros que necessitam de melhores serviços de educação, saúde, previdência, transportes públicos,  moradia popular”, disse Souto.O economista salientou que o FMI foi uma das agências internacionais que são, de alguma maneira, “co-responsáveis por toda essa desordem financeira que ocorreu”. Ele mostrou sua preocupação, no atual momento econômico global, com o fortalecimento do FMI no papel de emprestador de dinheiro. Explicou que  muitos países que tomaram empréstimos do Fundo enfrentam hoje dificuldades  em função de recomendações  adotadas “a partir de terapias defendidas por organismos como o FMI”.

Souto enfatizou que a decisão do G20 favorece o fortalecimento do FMI “nesse seu papel terapêutico”, sem uma revisão dos seus métodos de trabalho, que incluem condicionalidades para a obtenção de financiamento.

Na análise de Souto, o encontro do G20 se revestiu de uma maior importância devido à gravidade da crise e às consequências que ela vem provocando nos países.   Entre as  possíveis  vitórias que podem ser auferidas das decisões  do G20, assinalou  a injeção de US$ 1,1 trilhão em dinheiro novo na economia mundial, o compromisso com  relação à transparência contábil que as instituições financeiras passariam a oferecer ao mercado, além do fim do sigilo bancário nos chamados paraísos fiscais.

O presidente do Corecon/RJ ressaltou, entretanto, que não está claro quem dará mais recursos ao FMI, uma vez que os Estados Unidos e a China já teriam declarado que não têm interesse em fazer novos aportes. Por isso, avaliou que  o aumento de recursos para o Fundo  “é mais uma intenção  ou uma vontade dos governos do que, propriamente, um compromisso dos países. Então, esses US$ 500 bilhões devem ser relativizados”, indicou.

As medidas anunciadas pelo G20  trazem um benefício direto ao Brasil, por meio dos recursos no montante de US$ 250 bilhões para o comércio internacional, disse Souto. São recursos que serão repassados pelas agências de crédito  às exportações dos países membros  e dos bancos regionais.

No cômputo geral, o presidente do Corecon/RJ afirmou que restam muitas dúvidas a serem esclarecidas. A impressão que ele tem é que “o G20 está jogando para a platéia. As medidas (anunciadas) são muito mais para que nós, a população do mundo, assistamos e tenhamos ainda um pouquinho de esperança. Eu acho que é mais do mesmo”.

 O grande problema está na forma como o capitalismo funcionou nos últimos 30 anos, cuja tônica foi a liberalização financeira, causadora, em última instância, da  atual crise internacional. “Ela foi responsável por um formidável ciclo de expansão econômica e de inovações tecnológicas, mas as suas bases estavam precárias.  E não se encontrou ainda forma de se conceber como é possível o mercado financeiro ter grande liberdade de produzir novos produtos e, ao mesmo tempo, ter rigor fiscalizatório”. Essa é a questão de fundo da crise, apontou Paulo Souto.