G20 anuncia recursos contra crise, mas avança pouco em regulação do mercado financeiro

02/04/2009 - 18h49

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesarda tentativa de um novo Consenso de Washington, com o redesenho dosistema financeiro internacional, o principal anúncio dacúpula do G20 financeiro, realizada hoje (2) em Londres, foi apromessa de mais recursos para atenuar os efeitos da crise econômicaglobal. Os líderes decidiram destinar US$ 1,1 trilhãopara restaurar o crédito e os empregos e retomar a trajetóriade crescimento da economia mundial. Estima-se que, até atéo fim de 2010, o montante chegue a US$ 5 trilhões e a produçãomundial aumente em 4%. A cifra de US$ 1,1 trilhão, previamentenegociada por ministros da economia e presidentes de bancos centrais,foi anunciada no encerramento do encontro de líderes dasmaiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento do planeta. A maior parte dos recursos, US$ 750 bilhões,será para reforçar o Fundo MonetárioInternacional (FMI). Desse total, US$ 250 bilhões sedestinarão ao financiamento do comércio nos próximosdois anos e outros US$ 250 bilhões serão para apoio aoSDR (Direito Especial de Saques, na sigla em inglês) e pelomenos US$ 100 bilhões irão para os bancos multilateraisde desenvolvimento (como o Banco Mundial), de acordo com o documentofinal da cúpula). Há ainda intenção dedirecionar US$ 6 bilhões da venda de ouro das reservas do FMIaos países mais pobres nos próximos dois ou trêsanos. Os países membros do FMI se comprometeram aturbinar imediatamente o fundo com US$ 250 bilhões. Até mesmo o Brasil deve contribuir, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda não confirmou valores. O aumentode aportes para o fundo estava condicionado à reforma dainstituição, com maior participaçãodecisória dos emergentes. Os líderes do G20 tambémse comprometeram com a “reforma e modernização” dasinstituições financeiras globais, como já haviamfeito na Cúpula de Washington, em novembro, mas deram um passonessa direção, propondo uma nova revisão dosistema de quotas do fundo até janeiro de 2011. Tambémprometeram avançar nas discussões sobre a representaçãono Banco Mundial de forma a se chegar a um acordo na reuniãodo primeiro semestre de 2010. Os líderes do G20 financeiro tambémse comprometeram a promover os “esforços” fiscaisnecessários à retomada do crescimento e promover o“desenvolvimento verde”, já com foco na Conferênciado Clima de Copenhague, marcada para dezembro deste ano, onde deveser negociado um acordo para redução de gases de efeitoestufa pós Protocolo de Quioto. Como na Cúpula de Washington, osgovernantes condenaram o fechamento dos mercados como reaçãoà crise financeira e se comprometeram a não adotarmedidas protecionistas até o final de 2010.. Na reuniãoanterior, haviam se comprometido a não adotar medidasprotecionistas até o final de 2009, mas não cumpriram.Relatório recém-divulgado pelo Banco Mundial mostrouque 17 dos 20 países do G20 financeiro – inclusive o Brasil– adotaram medidas restritivas ao comércio desde a reuniãode novembro.Mais uma vez, os líderes defenderam aconclusão da Rodada Doha como forma de estimular as trocascomerciais e, assim, superar a recessão mundial. O presidentenorte-americano, Barack Obama, teria aceitado retomar as negociaçõesna cúpula do G8, marcada para julho, na Itália.Quanto ao tema central do encontro – aregulamentação e supervisão do sistemafinanceiro internacional - os líderes limitaram-se a reiterara necessidade de regras. Todos concordaram em reforçar seuspróprios sistemas regulatórios – como defendiam osEstados Unidos – e se propuseram a aprofundar a cooperaçãoe estabelecer princípios internacionais comuns. Tambémdeclararam guerra aos paraísos fiscais. Os americanos conseguiram convencer os europeus aampliar seus programas de combate à recessão, mas nãofoi dessa vez que o mundo conseguiu convencer a maior economia doplaneta a aceitar a criação de um órgãoregulador supranacional. Para compensar, o G20 financeiro anunciou asubstituição do FSF (Fórum de EstabilidadeFinanceira, na sigla em inglês) pelo FSB (Conselho deEstabilidade Financeira) – teoricamente com mandato reforçado,o novo órgão reunirá todos os países doG20 financeiro, integrantes do FSF, a Espanha e a ComissãoEuropéia.