Ex-diretor do BC avalia que aumento da inadimplência ainda reflete período pré-crise

27/03/2009 - 1h54

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O aumento da inadimplência  no início deste ano ainda reflete o período anterior à crise financeira internacional. A avaliação é do economista Carlos de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC). Segundo Freitas, houve "forte" expansão do crédito no período anterior à crise, o que levou pessoas e empresas a pegar dinheiro emprestado, sem ter condições para pagar. De acordo com o economista, depois do agravamento da crise financeira internacional, em meados de setembro, os bancos passaram a ser mais “seletivos para oferecer crédito”. Para ele, em maio a inadimplência deve diminuir. Segundo dados do BC, divulgados ontem (26), a inadimplência, considerados atrasos superiores a 90 dias, cresceu mais para as empresas. De janeiro para fevereiro deste ano, no total, passou de 2% para 2,3%, a maior desde agosto de 2007 (2,4%). No caso do capital de giro, por exemplo, a taxa de inadimplência passou de 1,6% para 1,9% e o desconto de duplicadas, de 6,6% para 6,9%. A inadimplência para as famílias aumentou de 8,2% para 8,3%, a maior desde maio de 2002 (8,4%). A maior alta foi de financiamentos para a compra de veículos, que passou de 4,6% para 4,8%. O aumento da inadimplência nesse segmento específico ocorre porque os consumidores estão optando mais pelo leasing, que não tem cobrança de Imposto sobre Operações Financeira (IOF). Com isso, a carteira de financiamento tradicional vai ficando “velha” e aumenta a inadimplência. Para a compra de outros bens, a taxa subiu de 13,8% para 14%. No caso do cheque especial (10,2%) e do crédito pessoal (5,7%) as taxas não foram alteradas de um mês para o outro. De acordo com  Freitas, as medidas do governo para estimular o crédito, como a que aumentou os limites do microcrédito, podem não ter efeitos imediatos, mas serão importantes no momento em que a economia “retomar seu compasso”. Mas, neste momento, na opinião do economista, ainda não há demanda para o crédito porque as pessoas “não têm negócios para fazer, nem perspectivas de ganhos”. Quanto às taxas de juros cobradas nos financiamentos, que estão caindo a níveis anteriores à crise, Carlos de Freitas avalia que são um sinal de que o “momento mais grave do colapso está passando ou já passou” e os bancos começam a repassar a redução do spread (diferença entre quanto o banco paga para pegar dinheiro e quanto cobra do tomador de empréstimo) para os clientes. “Os bancos médios e pequenos estão começando a ter acesso a linhas de crédito aqui dentro e lá fora. Estão recuperando e a capacidade de renovar [empréstimos]”, disse ele. O economista explicou que os bancos grandes têm "capilaridade de captação de recursos", porque contam com agências em todo o país, fundos de investimentos, entre outros instrumentos. “Os grandes bancos captam diretamente com o público”. Já os bancos pequenos e médios sofrem mais com a crise porque pegam recursos no mercado interbancário (entre bancos), que, com a crise, diminui reduziu muito. “Os bancos grandes pegam seus excesso de captação e repassam aquilo aplicando em bancos de porte médio e pequeno, que são geradores de negócios no sistema bancário.”