Novo índice do Ipea aponta desenvolvimento instável do país

26/03/2009 - 18h13

Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um novo índice para medir o desenvolvimento do Brasil foi apresentadohoje (26) pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada(Ipea), Márcio Pochmann, a deputados em audiência pública na Câmara. OÍndice de Qualidade do Desenvolvimento (IQD) vai medir, mensalmente, aforma como o Brasil se desenvolve em outras áreas que vão além docrescimento econômico. A primeira medição do novo índice foi feita em janeiro eo resultado, que poderia variar de 0 a 500, ficou em 225,4 –representando desenvolvimento instável. Isso significa que ocrescimento econômico, a distribuição de renda e a inserção externa dopaís não evoluíram na mesma direção. A partir de 300 pontos o IQD passaa ser bom, e a partir de 400 passa a ser ótimo. Abaixo de 200 pontos oIQD está ruim e abaixo de 100, péssimo.O novo indicador é formado por trêspilares básicos. O índice de qualidade do crescimento, que vai medirvariáveis econômicas, como massa salarial, produção setorial econfiança dos empresários, é um deles. Outro é o índice de qualidadeda inserção externa do Brasil. Esse vai medir a composição dasexportações, do investimento estrangeiro, reservas internacionais erenda líquida enviada ao exterior. O último indicador quecompõe o IQD é o índice de qualidade do bem-estar, que mede a taxa depobreza, mobilidade social, desigualdade de renda, e emprego. Cada umdos componentes valem até 500 pontos – o total é dividido portrês.“Esse indicador vai permitir que não só a sociedade, maso Poder Legislativo, o Tribunal de Contas, a Justiça e o próprio governo avaliem melhor as políticas públicas e em que medida essaspolíticas ajudam o Brasil a melhorar sua condição geral de vida dapopulação, do meio ambiente e de sua economia”, analisou Pochmann. Segundoele, o índice reflete uma nova forma de se analisar o desenvolvimentodo país, se desvencilhando do crescimento econômico isoladamente, econsiderando outros fatores que não são financeiramente medidos. “Nóstínhamos, no passado, aquela impressão de que bastava crescer o bolopara garantir o desenvolvimento. Agora nós vemos que isso não ésuficiente, nós precisamos aumentar a economia, melhor distribuí-la enão degradar o meio ambiente”, completou o presidente do Ipea. O doutor em ciênciaseconômicas da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São PauloLadislau Dowbor, que participou da mesa durante a audiência na Comissãode Assuntos Sociais, disse que o Produto Interno Bruto (PIB) não deveser o principal fator de medição do desenvolvimento do país. Segundoele, às vezes, coisas negativas como uma catástrofe natural ou aumentoda criminalidade, contribuem positivamente para o crescimento do PIBporque forçam o aumento de investimentos em infra-estrutura ousegurança, por exemplo. Para ele, variáveis como o tempoperdido nas grandes cidades ou o acesso ao conhecimento, barrado porcontratos de copyrights e pela guerra à pirataria, devem ser medidos nodesenvolvimento. “É pré-histórica a situação que vivemos nasuniversidades públicas em que se têm diversos empecilhos até para tiraruma cópia de um capítulo de livro”, afirmou. Para Dowbor, asmedições utilizadas atualmente são limitadas e ultrapassadas, e existea necessidade de indicadores que comprovem a satisfação da sociedade.“Acho que nós deveríamos criar a FIB, Felicidade Interna Bruta. Seriauma forma de medir o nível de satisfação da sociedade em contrapontocom o PIB”, propôs.