Projeto avalia impacto de desmatamento da Amazônia no clima brasileiro

21/03/2009 - 19h23

Riomar Trindade
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O vapor d’água gerado na Amazônia e transportado pelas massas de ar temimpacto decisivo sobre o clima nas demais regiões do Brasil, principalmente sobre o ciclo de chuvas no Sul e no Sudeste. Essa é uma das constações do Projeto Rios Voadores,coordenado há dois anos pelo engenheiro e ambientalista Gérard Moss,com patrocínio de R$ 3,45 milhões do Programa Petrobras Ambiental eparceria da Agência Nacional de Águas (ANA). O estudo revela a existência de uma forterecirculação de água entre a superfície e a atmosfera, causada pelatranspiração das plantas que compõem a floresta, o que contribui paraos altos níveis de precipitação na Amazônia, que chegam a ultrapassar2.400 mm/ano. Por isso, de acordo com Moss, a destruição da floresta provoca alterações,ainda difíceis de quantificar.“Uma árvore de grande portecoloca cerca de 300 litros de água por dia na atmosfera. Isso nãoatinge somente a Amazônia, mas todas as outras regiões para onde a águaé transportada pelos ventos. Tivemos no Brasil cerca de 600 milquilômetros de terras desmatadas nos últimos 30 anos. Ainda não sabemosmensurar com precisão qual o impacto sobre o clima”, afirmou.Segundo o pesquisador, apesar da Amazônia Legal representar, emmédia, 10% da população e do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (soma de todas as riquezas produzidas pelo do país), recebe poucoinvestimento em tecnologia. “É justamente lá que deveria haver muitomais investimento. O clima de São Paulo não tem impacto sobre aAmazônia, mas a Região Amazônica faz toda a diferença para o restante doBrasil e até mesmo para outros países”, argumentou Moss.Asinformações recolhidas pela equipe do pesquisador permitirão mostraraté que ponto o desmatamento da região amazônica pode afetar o climabrasileiro e como essa degradação pode alterar o ciclo hidrológico, quese refere à distribuição e circulação da água na natureza. O objetivo é compreender melhor as causas, tanto das grandestempestades, quanto dos extensos períodos de seca. “O objetivodo estudo é entender melhor o trajeto percorrido por esses verdadeirosrios voadores, que viajam sobre nossas cabeças e podem ter volumemaior que a vazão de todos os rios do Centro-Oeste, Sudeste e Sul”, dizGérard, que já fez 12 viagens sobrevoando o Brasil em um aviãomonomotor recolheu cerca de 500 amostras de vapord’água em diferentes camadas atmosféricas.Asamostras, são recolhidas em um coletor externo instalado no avião quecapta o ar ambiente e o direciona a um tubo de vidro, onde é resfriadoem gelo seco (-80ºC), para condensar a umidade em uma gota dentro dotubo. As amostras são analisadas no Centro de EnergiaNuclear na Agricultura (Cena), em Piracicaba (SP) e com base naspropriedades dessa gota d’água são definidos origem, dinâmica edeslocamento da água carregada pela massa de ar. A coordenaçãocientífica do Projeto Rios Voadores é de Enéas Salati, agrônomo eex-professor da Universidade de São Paulo.Estudos realizados por ele há 30 anos revelaram que 44% do fluxo devapor d’água que penetra na região amazônica vindo do Oceano Atlânticocondicionam o clima da América do Sul e atingem as regiões Sul, Sudestee Centro-Oeste. As pesquisas são usadas até hoje como base para oconhecimento hidrológico da região e foram fundamentais para aelaboração do Projeto Rios Voadores, que é um desdobramento do Projeto Brasil das Águas, selecionado pelo Programa Petrobras Ambiental em 2003.