Inserção no mercado de trabalho para pessoas com Síndrome de Down é restrita

21/03/2009 - 14h16

Lisiane Wandscheer
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A inserção no mercado de trabalho para as pessoas com Síndrome de Down está muito aquém da desejada e esbarra no preconceito e na discriminação. A avaliação é da presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome deDown (FBASD), Cláudia Grabois.Segundo ela, além de haver muitopreconceito na contratação de pessoas com a deficiência, o problema é agravado pelo fato de boa parte dessas pessoas serempobres e não terem tido acesso à educação.Dados da Relação Anual de Informações Sociais(Rais), do Ministério do trabalho, referentes a 2007, mostram que dos37,6 milhões postos de trabalho apenas 348,8 mil (1%) são ocupados por pessoas com necessidades especiais, destes 2,4% têm deficiênciaintelectual. Sobre a situação específica da inserção das pessoas com Down no mercado de trabalho, não há estatísticas oficiais ou extra-oficiais.A Lei nº 8.213 de 1991 obriga empresas com mais de cem funcionários a destinar entre 2% e5% de suas vagas a pessoas com deficiência. Afiscalização é feita pelo Ministério do Trabalho, entretanto não hádados disponíveis sobre o cumprimento da lei. Sobre a situação específica das pessoas com Síndrome de Down no mercado de trabalho não há estatísticas oficiais ou extra-oficiais.Para Claúdia Grabois, a lei ainda não está sendo integralmente cumprida. “A lei de cotas vai comemorar 18 anos em julho de 2009 e precisa ser cumprida. As pessoas com deficiência intelectual têm o direito de vivenciar o trabalho como outro cidadão”, afirma a presidente da federação. Ela também destaca que a educação inclusiva vem sendo vista há poucos anos como uma regra, um direito inalienável e vê perspectivas melhores para o futuro.“A escolaridade para a pessoa com deficiência intelectual tende a aumentar agora, o que será um ganho”, avaliou. A Associação Carpe Diem, organização não-governamental de São Paulo, trabalha na orientação profissional e encaminhamento de jovens e adultos com Síndrome de Down para cursos de formação. De acordo com a presidente, Glória Salles, as pessoas com deficiência intelectual, muitas vezes, não estão preparadas e, por isso, ficam à margem do mercado. A entidade encaminha primeiramente o interessado à empresa para conhecer o trabalho. Após a contratação é feito o acompanhamento por uma tutora da entidade e outra que fica responsável dentro da empresa. “Nosso objetivo é fortalecer a pessoa com deficiência. O trabalho precisa ser adequado às aptidões”, afirma.Mariana Amato, de 30 anos, tem Síndrome de Down e trabalha há quatro na biblioteca de uma instituição bancária em São Paulo. Satisfeita, ela faz atende ao público fazendo a entrega, o recebimento e a reserva de livros, além de organizar o malote que vem de todo o país. Mariana conta que passou por várias escolas e só concluiu o ensino médio pelo programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). Depois fez outros cursos que fortaleceram a sua formação. Rodrigo Marinho trabalha na Câmara Federal. Quem passa pelos corredores e gabinetes do Congresso Nacional pode ter a chance de esbarrar nele desempenhando suas funções de assessor parlamentar. “Atendo ligações, pego o jornal do deputado. Conheço pessoas em todos os gabinetes. O trabalho aqui é muito bom”, disse.Rodrigo, que já trabalhava antes, foi escolhido para o cargo em função de seu currículo. “Tive a oportunidade de aprender coisas que me levaram ao mercado de trabalho”, contou. Cerca de 14,5% da população brasileira, 24,5 milhões de pessoas, apresenta algum tipo de deficiência física ou intelectual. Desse total, 10% apresentam limitações intelectuais, como é o caso da Síndrome de Down.