Mantega: saída para os Estados Unidos é estatizar bancos com problemas

15/03/2009 - 23h17

Eduardo Castro
Enviado especial da EBC
Nova York - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita que o governo norte-americano,mesmo contra a vontade, terá de estatizar ou nacionalizar os bancos que têm gravesproblemas financeiros. “Eles não têm saída. Tanto que já estão fazendo namarra”, disse o minisntro em entrevista coletiva. Ele chegou hoje a Nova York, após participar emLondres da reunião preparatória para o encontro dos líderes do G20, marcado para 2 de abril.Segundo Mantega, os norte-americanos não se sentem à vontade parafalar em estatização ou nacionalização de bancos “por razões ideológicas”. Nacionalizar, segundo o ministro, trazmais segurança ao contribuinte, pois os recursos gastos para sanear ainstituição garantem que ela não quebre. Comprar só a parte ruim das instituições,disse ele, é complicado. "Se pagar muito pela parte ruim, o contribuinte reclama najustiça. Se pagar pouco, o banco quebra."O ministro também adiantou alguns pontos em que já há acordoentre o Brasil e os Estados Unidos e que serão discutidos em um grupo detrabalho antes da reunião do G20. A ação conjunta foi fechada durante encontro,no sábado(14), em Washington, entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e BarackObama. Segundo Mantega, os dois países concordam em apostar em mais políticafiscal – investimentos do estado – e monetária – baixando os juros básicos.Mantega também defende mais regulametação das instituições financeirasinternacionais, mas disse ter dúvidas sobre a idéia defendidapor países como França e Alemanha da criação de um organismo que chamou de a“OMC (Organização Mundial do Comércio) dos bancos”. Ele acha uma boa medida,desde que não seja formado como o FMI (Fundo Monetário Internacional), comassimetrias muito grandes no poder de decisão. Estados Unidos e o Reino Unidonão aceitam a proposta.Sobre essa regulamentação para fundos de investimentos, Mantegadefende que seja feita “com calma, sem assustar os investidores atuais, o quepode trazer ainda mais problemas”. Para ele, o prioritário é “tirar a toxidade”e sanear o sistema financeiro, o que trairia confiança e ajudaria a resolver oproblema da falta de crédito. Segundo o ministro da Fazenda, a criseinternacional está “engasgada” porque os ativos tóxicos (empréstimos de difícil recebimento pelos bancos) continuam nasinstituições.Outro consenso, disse o ministro, é a necessidade de que os países emergentes,muito afetados pela fuga dos capitais na crise, recebam maisinvestimentos e empréstimos estrangeiros. Esse desequilíbrio, diz o ministro,gera falta de crédito para exportação e afeta o comércio internacional como umtodo. Para ajudar a coordenar o fluxo de capitais, está em estudo ofortalecimento do FMI. Mas é uma questão também, segundo Mantega, que precisa serbem pensada.“O FMI precisa ser reformado. Tenho dúvidas sobre fazer uma grande captação de recursos para o FMI”,disse Mantega. Ele defende que os países possam fazer aplicações voluntárias:“Quem tem mais reservas, pode colocar mais dinheiro no FMI”.Segundo ele, só a China tem melhores condições que o Brasilpara deixar a crise para trás. “Nossa capacidade fiscal é maior, pois poupamosantes.” disse Mantega. “Os chineses têm dois trilhões de dólares em reservas internacionais,e os bancos não quebram. Podem ser agressivos na distribuição de crédito,estimular o mercado interno e os investimentos. O crescimento do PIB pode atécarir, mas é de 12% para 6% ao ano, podendo subir para 8%.”Mantega não quis falar muito sobre dados específicos sobre oBrasil, pois este será o tema de sua palestra nesta segunda-feira(16), em um seminário em Nova York sobre oportunidades de negócios no país. Mas avaliou que o Brasil já dá sinais de que pode sairmais rapidamente da rise. O ministro citou a Pesquisa Mensalde Comércio (PMC) de fevereiro, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE). Os números do mês passado ficaram acima daqueles registrados em janeiro.