Movimentos sociais avaliam o papel da nova Coordenadoria de Igualdade Racial, no Rio

15/03/2009 - 17h23

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Sob o olhar atento de representantes de movimentos sociais negros, assumirá na próxima terça-feira (17), a recém-criada Coordenadoria de Igualdade Racial, o cientista social Carlos Alberto Medeiros. Para a Associação de Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro (Acquilerj), entre os principais desafios está a titulação das comunidades de Sacopã, na zona sul, e Pedra do Sal, no centro, além do laudo de identificação de Camorim, na zona oeste. O receio é de que a especulação imobiliária se sobreponha sobre os interessses da coordenadoria.“Medeiros não é o prefeito”, disse o presidente da associação, Damião Braga. Embora destaque “boas intenções” no novo secretário - ativista do movimento negro desde a década de 1970 -, Braga lembrou que Eduardo Paes é ligado ao PMDB, partido representado na bancada ruralista, conhecida por defender interesses de grandes proprietários de terra. “São parlamentares que, no âmbito nacional, criam grandes empecilhos aos direitos quilombolas”, disse Braga.Uma das coordenadoras da organização não-governamental Crioula, a médica Jurema Werneck, disse acreditar que a nova secretaria terá o desafio de se relacionar com outras áreas do governo. Defensora da saúde da população negra, Jurema lembrou que a doença falciforme não é o único problema. Ela cobrou acesso da população negra aos serviços de saúde e qualidade no atendimento, o que implica também a superação do racismo institucional.“Tem a questão da violência, problemas como a hipertensão e o diabetes que afetam de maneira importante os negros”, disse Jurema. “Promover a saúde envolve ações na área de segurança, habitação, educação e desenvolvimento econômico. Melhorar os indicadores de saúde do município é melhorar a qualidade de vida, sobretudo, a atenção básica, auxiliando os profissionais a superarem o racismo, que nem eles mesmos percebem que têm”, disse a representante da ONG.Criado há mais de vinte anos, o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos dos Negros (Comdedine), representando 17 entidades, também defende a parceria com outras secretarias. A presidente da entidade, Eliane Santos de Souza, viu na criação da nova coordenadoria a possibilidade de o conselho assumir o papel original de fiscalizar a aplicação de políticas públicas, não de gestor.“Esperamos que [a coordenadoria] venha para implementar novas políticas. A partir de então, poderemos focar nas nossas ações para fiscalizar e assessorar a aplicação dos programas, além de relatar aonde estão as demandas e se serão necessárias intervenções”, disse Eliane. “A aplicação da lei, que obriga o ensino da cultura afro-brasileira e indígena, ainda não teve eficácia”, exemplificou.