Produção de biodiesel a partir de microalgas está sendo pesquisada pela Petrobras

14/03/2009 - 14h35

Riomar Trindade
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Referência mundial em desenvolvimento tecnológico para produção debiocombustíveis, a Petrobras tenta superar mais uma fronteira na áreade energias renováveis. O Centro de Pesquisas (Cenpes) da empresa, emparceria com as universidades federais de Rio Grande e de SantaCatarina, realiza pesquisas para produzir biodiesel a partir demicroalgas, que vivem nas águas salinizadas do litoral do Norte e naágua proveniente de produção de petróleo do Pólo Industrial de Guamaré.Cerca de 40 espécies de microalgas já foram coletadas e catalogadas,uma quantidade ínfima, porém, perto das 300 mil existentes no mundo.Destas, apenas 30 mil já foram identificadas. De acordo com Leonardo Bacellar, pesquisador e oceanógrafo da Petrobras, nem todas asespécies catalogadas servem como matéria-prima para a produção debiodiesel. “Ainda não está definido o número de espécies de microalgasque podem ser utilizadas para produzir biocombustível. Mas é conhecidoque é uma fonte de energia de alta produtividade”, garante.Asmicroalgas, segundo o pesquisador, se reproduzem de 50 a 100 vezes mais rápidodo que os vegetais utilizados normalmente para produção debiocombustíveis, como cana-de-açúcar, mamona, dendê e milho. O mesmoocorre em laboratórios, mantidas as condições ideais para a reprodução.“A área proporcional ao volume desses organismos microscópicos é muitoalta, ou seja, a troca de nutrientes é muito rápida, se comparada afenômenos de transporte entre estruturas mais complexas, como tecidos,por exemplo”, explicou Bacellar.Os primeiros experimentos paraverificação do desempenho e da produtividade das espécies coletadasforam realizados nos laboratórios do Departamento de Oceanografia daFurg. Simultaneamente, amostras de água foram submetidas à análise noslaboratórios de química da Universidade de Rio Grande, para verificaros possíveis efeitos positivos e negativos causados pela atuação dasmicroalgas selecionadas. O passo seguinte foi encaminhar as microalgaspara o laboratório de Química Orgânica da Furg, para as etapas deextração de lipídios, síntese, purificação e caracterização química dobiodiesel, obtidos por meio de modernos equipamentos de análisesquímicas.O processo de produção debiodiesel a partir de microalgas é realizado com a coleta de umaamostra de água salinizada em um tubo de ensaio. O tubo é fechado elevado ao laboratório, onde é colocado em uma estufa com temperatura eiluminação adequadas para manter as algas vivas. Em seguida, ocorre oisolamento e identificação das espécies, geralmente por meio demapeamento genético. É um trabalho cuidadoso, pois muitas algas contêmtoxinas que as tornam impróprias para a produção do combustível.Depoisde isoladas, as diferentes espécies de microalgas são levadas a umtanque cheio de nutrientes para que se reproduzam. As melhores serão asque se reproduzirem mais rápidamente e tiverem maior teor de óleo. Apósquatro dias, vão à secagem. Depois de secas, são embaladas para evitarseu contato com a luz e o oxigênio do ar.Na última etapa doprocesso, as microalgas secas são colocadas em um reator, que realizadois processos distintos: a extração do óleo que será utilizado nafabricação do combustível e a transformação deste óleo em biodiesel,por meio de reações químicas. Segundo Bacellar, normalmente o resultadofica em torno de 10% a 20% do total de matéria-prima utilizada. Ouseja, para produzir um litro de biodiesel, são necessários cerca decinco quilos de microalgas. Segundo Bacellar, “o futuro dessa novíssimafonte de biocombustível é tão promissor quanto imprevisível. É precisoconhecer melhor o potencial das microalgas e buscar o melhor caminhopara explorá-lo. A pesquisa e o desenvolvimento são de médio e longoprazos. Esse novo trabalho está em ebulição. Há um cenário poucoconhecido, dentro do qual temos que buscar o nosso melhor caminho”, disse Bacellar. O mais importante, avaliou o pesquisador, "éque a Petrobras tenha enxergado essa nova fronteira. O Brasil veráalgo que jamais imaginou”, prevê.