Encontro de Lula com Obama não muda relações bilaterais, acredita professor da UnB

14/03/2009 - 18h14

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasil não deve esperar grandes resultados do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama. Embora o Itamaraty aposte no aprofundamento das relações bilaterais e regionais devido a “afinidades de pensamento” entre os dois líderes, o pragmatismo continuará norteando a política externa norte-americana na avaliação do professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Virgílio Arraes.“Afinidade dos Estados Unidos só existe com um país, a Inglaterra, por questões culturais. Os norte-americanos têm uma política pragmática, voltada para a definição de alguns interesses e, no caso da América do Sul, é secundária porque não há nenhum governo que dê problemas”, frisa o professor, que acaba de lançar o livro Relações Internacionais, o Desgaste da Nova Ordem Mundial.Mesmo no caso da Venezuela – e das trocas de farpas e insultos entre o presidente Hugo Chávez e o ex-presidente americano George W. Bush – Arraes ressalta que a relação comercial, que é o que interessa aos dois países, é muito boa. Quanto a aliados na América Latina, o Brasil é o grande parceiro comercial, enquanto a Colômbia é o parceiro político no combate ao narcotráfico. O cenário, na avaliação do professor, não mudará na administração de Barack Obama.“A Colômbia é o grande parceiro pois aplica uma diretriz de política externa que o Brasil não se sente à vontade, que é a relativização dos direitos humanos. Para o governo colombiano, qualquer movimento insurgente, a princípio, não tem vinculação com causas sociais. Está associado ao narcotráfico e, conseqüentemente, ao terrorismo”, explica.Com relação às expectativas brasileiras de aprofundamento da relação comercial, o professor é cético. Não acredita na redução do protecionismo, defendida por Lula, e frisa que a abertura do mercado americano para produtos brasileiros não depende do bom relacionamento entre os presidentes – está, sim, não mãos do Congresso dos Estados Unidos. "Se São Paulo quiser vender mais suco de laranja, a bancada da Flórida bloqueia. Se Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul quiserem vender mais aço, os parlamentares do Norte bloqueiam. Lá, o presidente tem menos poderes do que tem o presidente do Brasil nesse sentido”, exemplifica.Também não deve haver grande mudança no relacionamento dos Estados Unidos com outros países latino-americanos, como Cuba e Venezuela, acredita Virgílio Arraes. “Os acordos que foram feitos para que os democratas ganhassem no Colégio Eleitoral já sinalizavam um conservadorismo maior”, afirma, lembrando que, quando pré-candidato, Obama era favorável a abrir negociações com Cuba. Depois de confirmado como candidato do Partido Democrata, precisou manter a intransigência com a ilha de Fidel Castro para conquistar os votos da Flórida.“Ainda que pessoalmente ele [Obama] seja mais progressista, o arco de alianças faz com que ele seja mais conservador”, conclui. O professor não acredita que o Brasil seja capaz de influenciar a postura norte-americana com relação à região – como Lula pretende fazer, de acordo com o chanceler Celso Amorim.“Para Washington, o Brasil é um país bom para dialogar, mas dentro de uma convergência, de uma linha de interesses da diplomacia americana", avalia. "O encontro de Lula com Obama é bom como uma peça de retórica, de propaganda. Mas, de efeitos práticos, não vai mudar nada. Os Estados Unidos não vão ficar menos protecionistas, não vão baixar tarifa de etanol e o Brasil não vai conseguir seu assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas”, conclui.