Usuário de crack enfrenta discriminação maior do que outros dependentes

12/03/2009 - 9h27

Marco Antonio Soalheiro*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ouso do crack é considerado com uma espécie de fim delinha no trajeto da dependência química, o que reforçao preconceito contra quem consome essa droga, por muito tempoassociada à população de rua. Pesquisadores,usuários e traficantes ressaltam este aspecto do vício,que pode se configurar como uma agravante para a recuperação.

"Ospróprios jovens são muito preconceituosos e contribuempara isolar o adolescente que usa crack, se descontrola e rapidamentese torna dependente. E isso não contribui para que ele peçaajuda, peça socorro", afirma a sociólogaSílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurançae Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Aconstatação de Sílvia se baseou em depoimentoscolhidos de jovens de comunidades carentes do Rio de Janeiro. Ostraficantes, durante muito tempo, resistiram a comercializar o crackpor acharem que ele destruía rapidamente a saúde e,também, pela imagem dos usuários. O dependente de cracké considerado uma pessoa sem valores, no qual não sepode confiar.

Léo,29 anos, ex-traficante que atuava em Brasília, tentou explicaro estigma. "O usuário de crack não tem valor, elerouba a mãe, ele te rouba. Se você for traficante, elevai te roubar. Só você deixar guardado e sair dali. Seele souber que está lá, ele vai pegar. Ele é ofamoso banho. Ele dá o banho no cara."Maurício, 31 anos, consumiu crack desde os 20 anos e está em tratamento há 3 meses para tentar se libertar do vício e da imagem negativa. "Semprejogam na cara de quem usa crack, chamam de pedrinha,de tijolo.Você fica humilhado e mal tratado. O crack é uma drogaque não permite partilhar com outro amigo", explica. Entreos usuários de classe média, o crack estádiretamente associado à criminalidade. "Quemusa droga tem preconceito contra quem usa merla e crack. Étiradocomo ´nóia´ e ligadocom marginalização", conta Carla, 30 anos, ex-usuária em recuperação em Brasília.