Seminário vai discutir relação entre trabalho, família e vida pessoal no Brasil

12/03/2009 - 7h02

Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O equilíbrio entre a vida pessoal, o trabalho e a vida familiar dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros será tema de um seminário promovido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem). De acordo com a diretora do escritório da OIT no Brasil, Laís Abramo, o seminário vai preparar os representantes do governo e da sociedade civil brasileira para as discussões que irão ocorrer na Convenção Geral da OIT, marcada para junho deste ano em Genebra, na Suíça. Segundo ela, existe uma situação desigual entre homens e mulheres no que diz respeito à divisão de tarefas e de tempo livre para cuidar de assuntos pessoais. Por questões culturais, os cuidados com a família – crianças, idosos, familiares doentes – ainda ficam mais a cargo da mulher, mesmo quando ela trabalha e chefia a família. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, 67% dos homens que são chefes de família são casados e têm filhos. Já entre as mulheres que são chefes de família, 49% têm filhos, mas não têm parceiros. Para Laís, os números demonstram que, mesmo quando chefiam as famílias, os homens dividem as responsabilidades financeiras e de cuidados, enquanto as mulheres acumulam as funções. “O homem não está sozinho nesta tarefa. As mulheres que são chefes de família e não têm parceiros ou cônjuges estão sozinhas. Isso significa que elas mesmas vão ter que exercer essas tarefas ou elas vão ter que recorrer a outro membro da família, que em geral é uma mulher – pode ser a mãe, a irmã ou a filha mais nova”, afirma Laís. Na avaliação dela, isso explica porque 72% dos jovens entre 15 e 24 anos que não estudam e não trabalham na América Latina são mulheres. “Ou seja, esse estereótipo de que são as mulheres as responsáveis pela casa e a família prejudica também a inserção e a autonomia financeira das gerações futuras”, completa. Mas, apesar dessa situação de desvantagem das mulheres no mercado de trabalho e na vida pública em geral – inclusive política – a vice-diretora do Unifem no Brasil, Júnia Puglia, defende que as empresas ofereçam oportunidades para que ambos os sexos tenham facilidade de conciliar os cuidados com a casa e a família com o trabalho. “É preciso promover a idéia de que os trabalhos domésticos e os cuidados com a família e os filhos são responsabilidades do pai e da mãe”, explica. Segundo ela, é preciso reforçar o conceito de "responsabilidade paterna" para que os homens sintam que as obrigações com a família também são deles.Para elas, a melhora da percepção de divisão de responsabilidades virá com políticas públicas, como aumento da licença paternidade, expansão dos serviços públicos como acesso a creches e até eletricidade e água – o que facilita e diminui o tempo gasto com os trabalhos domésticos. Além disso, a OIT e o Unifem defendem que as empresas também colaborem para a melhoria do equilíbrio entre família, casa e trabalho. Segundo Laís e Júnia, os acordos coletivos devem incluir cláusulas de auxílio-creche para trabalhadores que tenham responsabilidades familiares, e não apenas as mulheres. As empresas também devem colaborar permitindo flexibilização de horários para trabalhadores com essas características, de modo que tenham condições de acompanhar os filhos ao colégio ou ao médico, por exemplo. Os organismos internacionais cobram ainda que os acordos coletivos de trabalho ampliem o conceito de família, eliminando cláusulas que reforcem a responsabilização exclusiva da mulher sobre família e filhos, e incluindo os homens. O seminário tripartite para discutir o assunto será realizado de 16 a 18 de março em Brasília.