Governo ainda não tem política específica de combate ao crack

12/03/2009 - 9h08

Mariana Jungmann*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Dadosda Polícia Federal mostram um aumento das apreensões decrack que passaram de 145 quilos em 2006 para mais de 578 quilos em2007. Mas, segundo o secretário nacional Antidrogas (Senad),general Paulo Uchôa, existem poucas informaçõessobre o tema e nenhuma política pública específicapara o controle do crack está nos planos do órgão."Nãovamos ter plano voltado exclusivamente para o crack. Mas estamos nospreparando para fazer uma pesquisa mais voltada para essa droga. Nasestatísticas, ainda aparece muito como se fosse cocaínae seus derivados, apenas em alguns momentos vemos o crack emseparado", explica.

ASenad considera que somente uma pesquisa, de âmbito nacional,poderá dar a real dimensão do problema. "Qualquerque seja a droga, as políticas devem estar baseadas empesquisas epidemiológicas que nos garantam o rigor científicodo dado. Temos internações, algumas informações,a imprensa tem divulgado, a apreensão também temaumentado. Mas a gente não pode confundir aumento da apreensãocom aumento do consumo”, justifica.

Especialistascomo a socióloga Sílvia Ramos, coordenadora do Centrode Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade CândidoMendes, entretanto, alertam que o problema é grave e exigemaior sensibilidade das autoridades. "O crack é umtragédia que desperta pouco interesse. Mas não épossível que o Estado tenha uma postura de desistência.Tem que treinar pessoal, profissionais das áreas deassistência social, médicos, enfermeiros, mobilizar asociedade civil e o setor de segurança", ressalta.Ascríticas também partem de quem trabalha diretamente comas vítimas da dependência. César RicardoRodrigues da Cunha já foi viciado em cocaína e, há23 anos, coordena um grupo de recuperação dedependentes. "Um governo que é conivente com a divulgaçãode álcool, que mata milhões e milhões de pessoasno mundo, não vai fazer trabalho de prevençãocontra o crack", afirma.

Naárea de assistência social, as açõesvoltadas para os moradores de rua – população maisvulnerável e mais atingida pelo avanço da droga – sãoas mais próximas do problema.

"Transferimosdinheiro para 93 municípios com mais de 250 mil habitantespara que eles ofereçam serviços de abrigo e acolhimentopara a população de rua", explicou a diretora daSecretaria Nacional de Assistência Social, ValériaGonelli. "As pessoas ficam internadas e retornam, mas nem sempreelas têm um serviço de casa-apoio ou albergue.Precisamos trabalhar a qualidade deste acolhimento.”

ASenad diz que investe em capacitação de educadores,lideranças comunitárias e até líderesreligiosos para tratar do problema. Aqueles que se sentirem com "umacerta agonia", segundo o secretário, podem tambémligar para o serviço 0800 510 0015. "É um serviçogratuito. Quando você liga para lá, de forma anônima,você relata o seu problema e alguém do último anode graduação da área médica vai darorientação."A Senad é ligada aoGabinete de Segurança Institucional da Presidência daRepública e tem papel articulador. A secretaria nãopossui orçamento para executar diretamente os projetos. Porisso, as políticas são propostas e tocadas com outrosministérios e com os governos estaduais e municipais.ASecretaria de Assistência Social garante que o atendimento e otratamento sobre o uso de substâncias psicoativas estarãoprevistos no Plano Nacional de Assistência Social. Os doisórgãos, contudo, ressaltam a importância de queos prefeitos tomem a iniciativa. "Cada município precisacriar o seu conselho antidrogas. Capacitamos gratuitamente osconselheiros", afirma Uchôa.